Como no trecho do poema do mestre português Fernando Pessoa, Às margens do rio escuro, belíssima criação literária do magistrado, historiador e escritor Getúlio Neves, nos faz entrar numa fascinante embarcação que atravessa o Rio Itaúnas, ao ritmo de seus mitos e ritos sincréticos. Leia
Romance de formação, o livro de Filipe Ferreira Ghidetti narra a condição urbana da juventude do personagem X, na Grande Vitória. Embora não nomeado, X tem um lugar de fala claramente demarcado: é um rapaz moreno, heterossexual, morador de bairro periférico de Vila Velha, estudante de graduação da UFES. Leia
Marcela Guimarães Neves em A noiva de Paris (Vitória: Ed. Pedregulho, 2022, 118 p.) narra três agressões físicas e morais em três mulheres: as coadjuvantes na trama Clara e Luna Catalina, amigas de Sofia, a protagonista, e aspectos de representações de amor entre jovens e uma cidade: Paris, local sonhado para concretizações de felicidade que perde a harmonia, característica do amor, e se torna uma personagem de recebimento de agressões em moradores. Leia
Pausa. Além de movimento, o corpo humano precisa de descanso e de alimento. Elementar, meus caros leitores? Nem tanto. Como revela, de um modo “tapa na cara”, o brilhante filósofo Byung-Chul Han, estamos cada vez mais imersos numa existência econômica. Acabaram-se as preocupações coletivas, as ideias de construção de uma sociedade mais livre, justa e igualitária. Leia
A opção pela leitura do (r)e-book Fútil, de João Martins, se justifica por ser uma extensão do e-book Fútil e por conter as mesmas características, além de ser um compilado melhor que permite uma apreciação mais abrangente. Além disso, teve, antes de tudo, um critério afetivo. João foi meu aluno em um cursinho preparatório para o Enem. Eu dava aulas de Literatura. O cursinho é um projeto social mantido por educadores populares voluntários. Era o meu primeiro contato com a sala de aula como professor e eu costumo dizer que o João é um dos meus orgulhos de quando eu ainda não sabia lecionar. Leia
Ressurreição das Caveiras (seguido de Pele, Peau, Piel), de Marco Kbral e publicado pela Editora Cousa, é uma obra de poemas bastante curta, mas que me fez pensar mais um aspecto sobre a questão da transparência radical quando emitimos qualquer opinião sobre um texto (ou sobre qualquer coisa). Leia
De uma poetartista performática como Ingrid Carrafa, nunca se pode esperar apenas uma coisa. Não é apenas texto. Não é apenas corpo e performance. Como também não é apenas obscenidade. Em E quando borboletas carnívoras dançam no estômago, tudo que se repete e parece um pode ser mais ou pode ser outra coisa, até o oposto.
Bernadette Lyra, ao prefaciar a obra publicada pela Editora Maré, é muito feliz ao dizer das “obscenidades ternas” que atravessam toda a obra. Leia
O que é um corpo? Pensar o corpo na contemporaneidade não é tarefa fácil. Se por um lado temos uma apologia a um ideal do corpo perfeito, recortado e preenchido pelos procedimentos da medicina estética que “harmonizam” num efeito de apagamento das diferenças, por outro lado, com o advento da virtualidade, temos a abolição do próprio corpo de carne e osso. O encontro com o corpo do outro pode ser facilmente substituído por um encontro virtual, um aplicativo, um site, um “Eros eletrônico”, realizando plenamente esse imaginário contemporâneo da perfeição narcísica e da destituição da alteridade. Leia
Plano de transcrição – v2, 18 out. 2022.
Para o encontro do Leia Capixabas de outubro com o gênero ensaio ou livre, eu escolhi o Memórias de Minhas Carnes, da Camila Dalvi, publicado pela Editora Maré. Uma oportunidade única para poder tratar mais detidamente sobre a obra, já que, de fato, ela não parece se encaixar em um gênero específico. A autora dá um passo a mais em termos de liberdade: há seções que, sim, podem ser poesia, podem ser contos, crônicas. Mas não há só isso. Leia
Abro a janela. Um sol de inverno, fraco e recalcitrante, aquece como pode o quarto onde começo a escrever estas linhas. Diante de mim, um belo livro reforça a claridade da estrela longínqua, iluminando as minhas retinas nesta manhã de segunda-feira: A vida depois da luz, do talentoso escritor, advogado e professor Anaximandro Amorim.
Segundo a célebre frase do autor norte-americano Mark Twain, “Os dois dias mais importantes da sua vida são: o dia em que você nasceu, e o dia em que você descobre o porquê”. Com efeito, para Anaximandro Amorim, a revelação do sentido de sua existência deu-se sob a forma trágica de um acidente automobilístico no quilômetro 239 da BR-101. Leia
O destino de cada um de nós está traçado. A linha da vida, fiada com esmero pelas três Moiras, será por elas cortada ao fim de nossa existência. Mulheres como potências criativas ou algozes da destruição. Mulheres cruzando os caminhos masculinos, escrevendo ou apagando intenções, sentimentos, pensamentos de vida e de morte.
No livro Todas elas, agora, do brilhante professor, escritor e ex-secretário de cultura do município de Vitória Francisco Grijó, as mulheres são um objeto de fina análise, de uma verdadeira dissecação à lupa de quem evidencia o costume de vê-las sob vários ângulos, numa profusão de minúcias, embora caracterizadoras apenas de uma parcela daquelas que podem ser denominadas “mulheres”. Leia
“Se não tiver pecados atire a primeira pedra” (p. 25).
Após uma primeira leitura do romance Aninhanha, do escritor Pedro J. Nunes, algo ficou insistindo para que fosse colocado em palavras. O que da obra causou tal ressonância? Como expressar em palavras, impressões tão vívidas? Um texto forte, impactante, que, como bem coloca Carlos Nejar em sua apresentação da obra, caminha entre Rosa, Clarice, Beckett e Joyce, mas traz a marca do autor, no grito da própria criatura. Ouso acrescentar ainda, Eurípedes e sua Medeia, como um possível ponto de inquietação que fez despertar em mim a dimensão trágica do texto de Nunes. Leia
Ao som de um pássaro matinal, um doce intruso que me traz de volta das ilusões dos sonhos para as incertezas do mundo, levanto-me no alvorecer. O canto melódico da ave da aurora desperta em mim um desejo de liberdade, uma vontade de quebrar as regras da rotina, um ímpeto de poesia.
Acostumada a ouvir com atenção os chamados da intuição, e tomada por um impulso divergente, abro as primeiras páginas do livro escolhido. A obra O desejo aprisionado, de Deny Gomes (2ª ed., 2015, Secult), já me explica, em seu poema de abertura, denominado “Femina” (p.13), que a mulher é pura - mas não simplesmente - “contradição bem definível”. Leia
De que matéria é feita a poesia? Que substrato dá corpo à linguagem poética? De onde vem a centelha incandescente que anima a alma do poeta diante da página em branco? A essas perguntas resposta simples não se encontra, ou talvez seja justamente no simples, na simplicidade, que a poesia confecciona o seu complexo ninho. Estará ela nas borboletas renovadoras de Manoel de Barros? No gole d’água bebido no escuro por Mario Quintana? Topa com a pedra no meio do caminho do deserto de Itabira de Carlos Drummond de Andrade? Passeia pelos canais da Veneza americana de Manoel Bandeira ou chafurda na lama-mucosa do mangue recifense de João Cabral de Melo Neto? Leia
Fernando Fardin (1983) é capixaba de Castelo. Bacharel em Direito e servidor público do TRT da 17ª Região (Espírito Santo), o autor estreia na literatura com um recolho de 12 contos, intitulado Aonde o sol não vai, lançado em 2021, pela Páginas Editora, de Belo Horizonte. Todos os textos têm como protagonista o jovem historiador Genaro Caliman, carioca que vem dar com seus costados em terras capixabas, vivendo, neste rincão, uma série de desventuras politicamente incorretas, que mostram, em última análise, um retrato deste nosso começo de século. Leia
É de uma aldeia cálida da América do Sul, mais precisamente da cidade de Colatina, a dita “princesa do norte espírito-santense”, que partimos, por meio da leitura de Breves notas quase-literárias, (2) do magistrado, historiador, escritor e professor Getúlio Marcos Pereira Neves, para uma deliciosa viagem rumo às terras de além-mar.
O ponto de partida, embora resplandecendo os encantos de seus famosos crepúsculos, conta-nos sobre uma época em que, para garantir o bom funcionamento de certas atividades estatais, não se dispensava o “recurso ao Colt.” (p. 12) Leia
Versos em diferentes matizes de verdes e azuis emergem da tela de Van Gogh, “Barcos de pesca no mar” (1888), tela esta que não por acaso ilustra a capa deste livro de poemas intitulado Mutações. A autora, Ester Abreu Vieira de Oliveira, possui uma biografia que engrandece o cenário da literatura produzida no estado do Espírito Santo e extrapola o território nacional, sendo reconhecida em outros países, principalmente de língua hispânica. No entanto, para muito além de sua rica biografia como escritora, docente e integrante de diversas instituições literárias e culturais, Ester Abreu é uma pescadora de sonhos e nos leva por uma imensidão de verde-azul a sonhar. O leitor é convidado a um mergulho de corpo e alma numa espécie de vórtice das palavras. Leia
Esta é uma publicação de cooperação entre o site Tertúlia e o clube de leitura Leia Capixabas.
Editor responsável: Anaximandro Amorim