Entrevista com Tertuliano (*)

Luiz Guilherme Santos Neves 

Esta entrevista com Tertuliano foi feita por Réia Silvia, estudante de comunicação de uma faculdade de Cariacica, região socialmente conturbada da Grande Vitória, no Espírito Santo. Réia Silvia, que colabora no jornal Comunidade Cariaciquense, éuma garota simpática, na casa astrológica dos vinte anos, com olhos amendoados, tez amorenada e cabelos negros como as asas da graúna que ela joga para trás num movimento rápido que virou cacoete (dentre outros: mascar chiclete de bola; falar em telefone celular; roer as unhas; passar a ponta da caneta Bic na língua; juntar os olhinhos no centro do nariz em atitude de espanto, et caterva). Réia Silvia ri também com simpatia, ri sempre com simpatia de tudo o que lhe agrada, e, ao riso alegre e dentucinho que projeta para frente e para os lados junta, quase sempre, a expressão Amei! Estudante moderninha, usa gravador de bolsa para fazer entrevistas, que completa com imagens filmadas no celular perolado. De estatura meã, RS calça sapatos de salto inteiriço e alto que são verdadeiros pedestais sobre os quais ela equilibra com habilidade sua leveza de ser, indiferente ao perigo de torcer os tornozelos.

O que levou Réia Silvia a procurar Tertuliano foram os textos divulgados no site Tertúlia, do nobel escritor (digno do prêmio Nobel) Pedro J. Nunes.

Tertuliano a princípio resistiu em conceder a entrevista, quando a jovem lhe telefonou. Mas tantas vezes foi acossado por RS que acabou cedendo, com uma condição: que a entrevista durasse no máximo oito e meio minutos, o que foi aceito pela entrevistadora. O texto que se segue foi gentilmente cedido por RS para o site Tertúlia.
LGSN

 

RS – Como o senhor se sente na figura de herói das Tertulianas?

T – Em primeiro lugar, me chame de você para eu não parecer mais velho do que sou. Em segundo lugar, a expressão herói me parece imprópria. Herói foram Maria Ortiz e Domingos Martins, para só lembrar gente de casa. Ela virou escadaria; ele, um busto “bustamonte” em praça pública... Ser herói não é glória, é sina. Se você ler com atenção os textos das Tertulianas vai perceber que eu fico muito mal em todos eles. Sou retratado, do começo ao fim, como frívolo, peralta, um paspalhão desde fedelho, tipo que morto não faria falta. 

RS – Mas não foi assim que o senhor... isto é, você foi descrito por seu pai?

T – Foi. Mas meu pai, que Deus o tenha, sofria de miopia aguda, não via um palmo diante do nariz. Além de usar pincez nez, quase nunca o tinha no septo nasal. Sempre que o perdia era eu que o tinha de procurar pela casa toda... Foi injustiça dele dizer que morto eu não faria falta. Faria sim! Pelo menos ele não teria quem achasse seu pincez nez...(risos)
    
RS – Quer dizer que você nega as situações descritas nos textos das Tertulianas? (RS fez a pergunta juntando os olhinhos ao septo nasal).

T – Não se trata de negar ou não negar. Quem não comete erros na juventude? Cometi vários, mas nem por isso é agradável vê-los divulgados na Internet. Esta divulgação não me envaidece.

RS – Mas houve realmente aquela passagem em frente ao espelho, na casa de seu pai?

T – Houve...

RS – Ele disse que você precisava de juízo?

T – Disse. E, de certa forma, meu pai tinha razão. Durante grande parte da minha vida fui um desassisado.

RS – Desassisado...? (novamente os olhinhos de RL se avizinharam do nariz, enquanto ela dava uma cruzada de pernas que permitiu a Tertuliano uma visita d´olhos ao domicílio secreto das suas coxas).

T – Desassisado é um sujeito sem juízo, desmiolado...

RS – Mas essa falta de juízo lhe rendeu bons frutos com as mulheres, ou estou errada?

T – Basta ler as Tertulianas para se chegar a esta conclusão. Mas sob o aspecto ético, que hoje está na moda, exceto no PT, aqueles bons momentos por mim vividos (ou bons frutos por mim comidos) comprometem minha história de vida.

RS – Você está vivendo a fase de ermitão em que o Diabo se transforma quando fica velho?

T – É possível. Mas lhe asseguro que é uma fase passageira, diria até que terminal... (risos)

RS – Amei sua resposta! Mas tirando o lado que compromete sua biografia, dentre os casos contados nas Tertulianas, quais os que são da sua preferência?

T – Da minha preferência...?

RS – É... no sentido de experiência  que você gostaria de repetir...

T – Todos...

RS - (rindo) Amei de novo! Mas deve haver alguma passagem mais legal que volte sempre à sua memória...

T – À memória de um velho, é isso que você quer dizer?

RS – Não me entenda mal. Até as pessoas jovens têm também lembranças preferidas...

T – Eu sei o que você quis dizer... Mas não gostaria de fazer nenhum comentário a respeito.

RS – Nem sobre a Vênus olhando-se ao espelho?

T – Não.

RS – Ou sobre a miriti florida, na ilha do Sol?

T – Esquece a miriti florida. Na verdade, ela me causa um pouco de vergonha.

RS – E sobre a ninfeta, na ilha dos Amores?

T – Ah, a ninfeta! Mas também não. Até hoje sinto os efeitos da sua magia. Torcicolosamente (mais risos).

RS – E sobre o gênio pigmeu, nada a dizer?

T – Não me fale daquele depravado... (e uma nova cruzada de pernas de Réia Silvia fez Tertuliano se igualar em gênero e grau à depravação do gênio pigmeu).

RS – Então, comente um pouquinho – só um poucoxinho – o caso da tanajura e do gafanhoto...

T – Nem pensar...

RS – E sobre a Pupa e o Pupo? Afinal foi uma experiência tão cheia de encantamento e poesia...

T – Sobretudo sobre a Pupa e o Pupo, poupe-me desse meu passado pueril.

RS – Já vi que não vou conseguir nada nesta entrevista...

T – Eu não lhe dei nenhuma esperança...

RS – Tem razão. Vou desligar o gravador. (Em off): Posso tirar algumas fotos suas no meu celular?

T – Fique à vontade. Só não me peça para fazer pose.

RS – Fique descansado que não pedirei.

T – Deixa agora eu lhe fazer uma pergunta: – Você não tem medo de torcer o tornozelo usando um sapato de salto tão alto?  

RS – A gente se acostuma. Acho que por isso não corro o risco de ficar com o pé torcicoloso... (risos) 

T – Agora fui eu que amei sua resposta.

RS – Obrigada. E obrigada também pela entrevista.

T – Volte quando quiser...

RS – Prometo que voltarei.

T – Poderemos então brincar de bode e de cabrita...

RS – Como é que é...? (e os olhos de RS quase saltaram sobre o nariz).

T – Nada. Esquece!

(*) Luiz Guilherme Santos Neves envia-nos uma entrevista de Tertuliano. Não estabelece a origem, como lhe chegou o texto nem se o extraiu de algum periódico. Como a entrevista é esclarecedora e a entrevistadora um petisco made in Cariacica, ambos vão aqui plasmados.

 

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