Contrapor a quantidade de gente que anda por aí escrevendo literatura de ficção ou poemas ao número infimamente ridículo de pessoas que leem, em nosso país, pode parecer coisa de quem não tem assunto mais importante a tratar. Pois eu digo que isso depende do que seja um assunto importante. Para mim, por exemplo, leitura literária é coisa importantíssima. Não apenas por ser proveitosa e ajudar na formação do pensamento crítico, mas também porque é ferramenta das mais poderosas quando se trata de alicerçar práticas que nos permitam transitar pelos labirintos intrincados da vida.
Romances, contos, poemas têm força bastante para criar laços com as mais variadas ideias, modos de comportamento, desejos, sonhos e imaginação. Além de que abrem espaço para que a gente compreenda tantas outras existências que germinam sobre este planeta.
Até entendo criaturas que preferem escrever e publicar, ao invés da leitura. Seja por desabafo no sufoco dos tempos em que estamos vivendo, seja como forma de não submergir ao anonimato, seja para fazer valer aquela vontade vaidosa de aparecer bem na fita e “causar” nos circuitos familiares ou nas redes sociais. Acredito, também, na liberdade de quem quer escrever. Além do mais, não sou gabaritada para julgar o bom, o mau, o belo ou o feio da escritura de alguém. Mas não é este o caso. O caso é a onda do mar de inquietação que bate em mim quando vejo a defasagem enorme existente entre tanta gente escrevendo e tão pouca gente lendo.
Talvez seja lugar comum, mas não posso deixar de pensar que, neste imbróglio de desacertos e excessos, tudo poderia ser resolvido se houvesse maior atenção e cuidado para com a leitura desde aquele momento em que uma criança começa a se alfabetizar. Nada substitui o instante em que, de repente, alguém descobre o prazer de dar sentido àquele amontoado de rabiscos que se juntam e formam as palavras e as frases. E então começa a delícia. Começa a mágica de viver a experiência de tantas realidades diferentes daquela que alguns convencionam ser a única realidade.
Sabe-se bem que o cérebro humano não foi projetado para a atividade de ler. A leitura é um ato aprendido. Entender a relação existente entre os sons de uma língua e as letras exige da mente um esforço brutal. Mas, para mim, ler é sempre o equivalente a ouvir música. Um dia eu escrevi: O caminho do conhecimento humano não precisa ser chato. A viagem do conhecimento humano não precisa ser triste. Mais um motivo para acreditar que ler deve ser uma atividade sempre feita com muita alegria e emoção.
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