“É de sonho e de pó...”

Eu guardo em mim uma esperança louca, uma angústia de quase… O vento empurra pra longe pequenas nuvens carregadas de sonhos pueris. Às vezes penso: não creio mais em nada; não reconheço este mundo, estranho as gentes e seus pensares estranhos. Busco por toda parte a transparência, a simplicidade lisa e brilhante de um remanso. Busco a verdade e ela me foge. Existe deveras? Onde estará agora?  Perdida (meio século atrás) no moinho das horas.

Sinto ânsias insondáveis de “medidas provisórias” que  substituam a beleza de meus verdes anos. A vida me foge qual voo de pássaro. Para minha sede, nem uma gota de chuva permanece. Sinto, às vezes, tristezas de crepúsculos, de frias madrugadas e, no vazio de minhas mãos, os últimos grãos de areia esquecidos pela ampulheta do tempo.

Eu me pensava timoneiro de meu próprio barco, mas os ventos que sopram as velas o impulsionam para horizontes imprevisíveis e mais longínquos que as montanhas azuis da terra firme.

Não sinto a terra firme. Ela se move sob meus pés errantes, sob meus passos sem certeza de nada. Tudo me parece ilusório, fugidio qual um sonho inacabado. (Todo sonho ‘É’  inacabado).

Abro as janelas para ver a chegada da aurora loura e luminosa e vejo um Sol deslumbrante. Que alegria!... Respiro fundo – essa alegria ficará em mim, penso, e aquecerá meu outono. É assim que transformo em felicidade a melancolia.

Porque há um poço fundo no meu ser onde guardo todas as saudades – dias horas momentos – como fósseis. Em um calidoscópio coleciono as alegrias – num triz as tenho, à mão com suas cores, brilhos, formas nunca repetidas e descubro: ainda há milagres à nossa espera. Dispenso desejos, expectativas, planos porque a vida me ensinou: o que há de vir – virá!

Desperto, sempre, com uma profunda ânsia de horizontes, de infinitudes que só o mar sem fim pode expressar.

(Um grito de maritaca perfura meus devaneios. Ouço a voz austera de Irmã Rosa a sacudir minha pequena alma de 12 anos: – “Acorda, Marilena, devaneios são perigosos!”) São?

Estou em transe agora. Por favor, não me acordem!

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