Então vem uma leitora deste delicioso blog e me indaga o que penso da expressão “arte erótica”. Vou dizer uma coisa que talvez deixe a querida leitora muito chocada: a meu ver, toda arte é erótica. Vejo o fazer artístico como um ato de amor sensual e, de quebra, um ato feito com muita libido. Antes que sobre mim seja lançado um anátema, eu quero explicar: creio que o desejo mais visceral de qualquer artista (que verdadeiramente tenha o dom de criar) é ligar-se a sua obra, seja ela de que espécie for: literária, pictórica, teatral ou qualquer outro modo expressivo. Por outro lado, o contato de alguém com uma obra artística também exige uma reação de sensualidade, seja paixão, afeto, repúdio ou indiferença.
É certo que muita gente usa o termo “arte erótica” para nomear apenas as representações artísticas que despertam, de alguma forma, sentimentos ligados ao sexo e à sexualidade de corpos humanos ou mesmo de animais. É aí que a confusão mete o bedelho, pois a sexualidade ainda é tida por muitos como um vergonhoso pecado ou uma perigosa transgressão. As duas vertentes das acusações estão ou na teologia ou no conservadorismo, ou seja, são farelos do modelo cultural cristão, que define a sexualidade pela noção divina de bem e de mal; são resquícios da sociedade conservadora burguesa, que preza o capital e a retenção de renda, vendo assim a sexualidade como um excesso moral desenfreado, que deve ser reprimido e posto sob controle.
Somente pensando na manutenção dessas duas atitudes é que se pode entender que as formas de representação da chamada “arte erótica” possam ainda incomodar e oferecer restrições por parte de certos setores culturais e sociais. Resta esperar o que traz para a humanidade o século XXI, afogado até o pescoço nas ondas da tecnologia digital que movimentam e transformam as culturas e as sociedades. De toda forma, nenhuma forma de arte jamais será vergonhosa; vergonhosa é a censura, esse monstro que assombra a liberdade de criar e a “chamada “civilização.