Navegação em torno da ilha vislumbrada

Existe bom escritor de todo tipo: contista, cronista, romancista, poeta (pra quem não sabe, poeta também é escritor), ensaísta, historiador, e segue por aí, que ainda tem mais. São especialistas em produzir frases de efeito, parágrafos atordoantes ou apaixonantes, versos lacrimogêneos, páginas emocionantes em livros, informação, notícias tristes ou repugnantes em jornais e revistas, e por aí vai, que tem mais ainda.

Por trás de tudo onde nossas mãos, olhos e ouvidos alcançam, há um escritor. E segue adiante, porque discurso de político – de vereador a presidente – também tem escritor por trás. É tanta coisa que deveria existir faculdade só pra isso, mas só para isso não tem!

O escritor Luiz Guilherme Santos Neves é quase tudo: contista, cronista, romancista, ensaísta, historiador, menos poeta, que poeta sei que ainda não é. Porém, entre os escritores, ele tem uma característica única: produz como se estivesse pintando textos sobre o papel, é um pintor de palavras. Uma após a outra, pincelada atrás de pincelada, desenha com letras pretas sobre o branco o que a maioria de nós não conseguirá registrar mesmo utilizando as cores de uma câmara fotográfica. É verdade, acreditem!

Em seu novo trabalho, “Navegação em torno da ilha vislumbrada” (publicado via Lei Rubem Braga da Prefeitura de Vitória), Luiz Guilherme faz uma viagem de navegação em torno da sua ilha “vislumbrando ícones nos devaneios de uma fabulação irrelevante” (ele é modesto), e concede ao leitor uma visão diferente dessa “ilha firme e dadivosa”, e garante que cada homem pode ter a sua, aquela que lhe cabe, “sem que seja necessariamente a Ilha do Tesouro”, claro.

Enquanto meus olhos percorriam as páginas do livro, que ganhei antes mesmo do seu lançamento – uma pequena recompensa por ter adquirido a mania de escrever comentários às minhas leituras –, imaginava o que um “forasteiro”, recém-chegado às praias da nossa ilha, pensaria ao ler que “todos os anos atiram-se donzelas nuas, do alto da grande ponte, na baía da cidade” – coisa que todos nós, habitantes da ilha, estamos cansados de saber que acontece, não é mesmo? Ou sobre a mulher espantalho que afugenta invasores, se chegam até aqui na esperança da pilhagem? O livro fala sobre a ilha, os forasteiros, o mar, o vento sul, o mestre, o morro moreno, a baía, a penha, o porto, o túmulo, a ponte do parque, e mais de setenta outros lugares marcantes na vida de seus habitantes e da história de Vitória e seus arredores, e também da mulher-espantalho.

Embarquei na viagem, naveguei com o autor pelos principais ícones da memória popular daquele lugar. Vislumbrei a ilha e me encantei com a fabulação do escritor morador. Com olhar de forasteiro, descobri porque os habitantes a adoram. Luiz Guilherme revela uma Vitória mítica e fabulosa, sem deixar de ser irônico e bem humorado. Entretanto, não conseguia saber quando e se ele estava “mangando” da ilha, dos nativos ou do leitor – eu.

Não posso esquecer de informar que, além de escrito com encanto, o livro é ilustrado pelas fotografias – coisa preciosa de se ver! – de Pedro J. Nunes, escritor e produtor cultural multimídia.

 

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