Contos e microcontos

É fácil falar, difícil é persistir e seguir lendo contos de escritores estreantes. Só mesmo por mania. Até eu, um maníaco de carteirinha, andava desanimado. Mas, para minha sorte, tenho um amigo generoso e bem informado que me passou um exemplar do livro de estreia de Sarah Vervloet, Contos e microcontos.

O primeiro conto me despertou, o segundo me desconcertou, o terceiro me prendeu ao livro, que só larguei depois de ler o último. Tudo bem que é um livro fácil de ler de uma tacada, com poucas páginas de contos, 50.

Gostei mais de “A mulher que controlava os pães”, “Era muito, mas se acabou”, “Contanto que eu não chore” e “Segura essa, rapaz”. Dos outros gostei muito da escrita, mas daqueles primeiros ouvi a “voz” com mais facilidade. Por quê?

Porque Sarah constrói seus textos em duas formas principais. Numa ela conta histórias e as diz sem forçar o leitor a submergir em inferências autorais, alguns diriam “herméticas” (não gosto dessa palavra neste contexto). Na outra ela mesma trata disso, submerge e tenta nos levar junto - e não duvido que consiga. Eu é que, preguiçoso ou sem fôlego, sofro de uma dificuldade crônica ao mergulhar em águas mais profundas para pescar sentimentos. Preciso que os exponham de maneira mais crua e direta. Mas mesmo a minha deficiência nas profundezas não impede que eu perceba quando há fluência, inteligência e qualidade na “carpintaria”, e isso o texto de Sarah Vervloet tem de sobra.

Ótima leitura, além da surpresa.

 

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