Bicho da mata

- Dentro da mata tem coisa que existe e coisa que não existe e você não sabe qual é a verdadeira - disse-me ele.

E explicou-se:

- Eu ia pela trilha de espingarda no ombro quando apareceu o bicho. Bicho feio, meio gato do mato, meio onça, sei lá o que era. Parou na minha frente, me olhando com maldade. Então eu parei também, deslizei a espingarda do ombro como quem não quer nada, fiz a mira e disparei o tiro. O chumbo pegou na cara do bicho e ele caiu de lado com as pernas esticadas. Pensei comigo: matei o peste. Mas quando botei atenção, de dentro do corpo que parecia morto cresceu um outro bicho, igual ao que eu tinha acertado, como se fosse a alma lá dele. Cresceu assim como uma assombração e veio pra cima de mim, batendo as pernas no ar. Dei as costas para aquela coisa medonha que voava como alma penada e saí correndo. Só parei depois que senti um ventinho gelado passar sobre a minha cabeça me dando uma quentura tão forte na barriga que tive de obrar no mato.

 

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