Um livro sobre a discografia da música
produzida no Espírito Santo

Contar a trajetória da música popular no Espírito Santo por meio de sua produção fonográfica: este é o tema do novo livro do jornalista e escritor José Roberto Santos Neves, Os sons da memória – uma leitura crítica de 40 discos que marcaram época na música do Espírito Santo, selecionado pelo Edital de Produção e Difusão Literária 018/2019 da Secretaria de Estado da Cultura.

Sexto livro de José Roberto Santos Neves, Os sons da memória é resultado de uma extensa pesquisa desenvolvida pelo autor sobre a música popular produzida no Estado, com foco em seus principais personagens: cantores, compositores, regentes, instrumentistas, arranjadores, letristas, bandas, orquestras e todos aqueles que forneceram a régua e o compasso – ou melhor, as partituras, melodias, harmonias e ritmos – para a construção da historiografia musical dessa terra que sempre foi pródiga em revelar talentos.

Como se sabe, o Espírito Santo é um dos Estados da federação no qual o desenvolvimento econômico se deu mais tardiamente; a princípio, com a cultura do café, no final do século XIX, e de forma mais consistente com o processo de industrialização iniciado na década de 1960. O isolamento econômico dificultou a criação de um mercado consumidor para as artes, mas nunca foi fator de impedimento para a consagração de artistas capixabas em nível nacional.

Para a elaboração deste livro, o autor estabeleceu como meta lançar luz sobre músicos que contribuíram de forma indelével para a identidade musical do Espírito Santo. A seleção de discos analisados compreende LPs e CDs lançados desde a década de 1950 até a contemporaneidade, compondo um mosaico de sons que se propõe ilustrar uma trajetória rica e diversa, que perpassa diferentes gêneros musicais, conforme destacam Rogério Coimbra e Francisco Grijó nos textos de apresentação.

Assim, nomes como Carlos Cruz, Raul Sampaio, Maurício de Oliveira, Carlos Poyares, Pedro Caetano, Hélio Mendes, Trio Caiçara, Achiles Siqueira, Gilberto Garcia, Maria Cibeli, Aprígio Lyrio, Afonso Abreu, Ester Mazzi e Sérgio Benevenuto se descortinam nas mais de 460 páginas do livro. A geração dos anos 1980 é representada nos capítulos dedicados a Carlos Bona, Carlos Papel, Guto Neves, João Pimenta e Lula D’Vitória, assim como o pop dos anos 1990 se faz presente na análise dos discos das bandas Manimal e Casaca. A produção posterior a 2000 contempla a potência criativa de Fabiano Araújo, Pedro de Alcântara, Wanderson Lopez, Saulo Simonassi e Hariton Nathanailidis, entre outros nomes que transitam pelo jazz, o choro e a música instrumental de boa cepa.

Importante frisar que boa parte desse material permanece restrita ao formato analógico e inacessível ao público em geral, especialmente os álbuns lançados pelo Departamento Estadual de Cultura nos anos 1980.

Para produzir Os sons da memória, José Roberto Santos Neves mergulhou nesse arquivo fonográfico e em livros seminais sobre a música do Espírito Santo, entre os quais Música popular capixaba, do jornalista Osmar Silva, e Carnaval – cem anos, de Anselmo Gonçalves. Também entrevistou músicos que ilustram as páginas desta obra e visitou o Arquivo Público do Espírito Santo, centros de documentação de veículos de comunicação e diversos sebos em busca de raridades.

Sobre o autor, escreveu Francisco Grijó: “José Roberto firmou-se como jornalista competente e equilibrado, e posso transferir esses dois adjetivos para a comarca literária, na qual ele, à vontade, nutre-nos de elucidações e seriedade.”

Rogério Coimbra, que além de músico e compositor, também é um conhecido pesquisador da música no Espírito Santo, ressalta o valor investigativo do autor de Os sons da memória: “José Roberto Santos Neves, com sua astúcia investigativa de jornalista e sensibilidade como músico, resgata momentos importantes da música popular no Espírito Santo num dos períodos mais férteis, marcado pelas gravações de discos vinis e, depois, CDs.”

Em boa hora chega para os capixabas a possibilidade de viajar pelas páginas da música popular produzida no Espírito Santo. Boa leitura!

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