Homem de letras festejado por todos que o leem, tanto na prosa quanto na poesia, Getúlio Marcos Pereira Neves brinda-nos agora, neste Poemário mirim de pertinências várias, com um punhado de poemas curtos, numerados, de versos também curtos, à moda do modernista Oswald de Andrade, em sua poesia minimalista, e do saudoso poeta e conterrâneo nosso Miguel Depes Tallon, em seus poemetos primeiramente publicados em cartões, distribuídos gratuitamente de mão em mão aos amigos mais chegados, e depois, somente depois, enfeixados em livros para conhecimento e deleite de seus muitos leitores.
Os pouco mais de duzentos poemas que compõem este livro, em conjunto, podem se resumir num só poema longo, quase épico, tão harmônicos e tão complementares são uns dos outros, formando, em minha modesta opinião e ótica autodidata de ver e ler a poesia, um altivo canto louvando a terra espírito-santense e os capixabas; as nossas cidades, as nossas montanhas, o nosso litoral, os nossos rios, a nossa cultura, a nossa literatura, o nosso todo, enfim.
Durante mais de duas semanas, todas as noites, entreguei-me calmamente ao prazer da leitura deste livro, de poema a poema, sempre fazendo um silêncio antes e outro depois de cada releitura para melhor sorver toda a imensa poesia que se acha contida, explícita e implicitamente, em cada verso de cada poema. Após essas duas semanas de leituras-estudos, poderia fazer aqui uma extensa lista daqueles poemas que mais me chamaram a atenção por suas belezas poéticas, metafóricas e pictóricas e, também, pela maneira cuidadosa com que o autor urdiu cada verso e ergueu cada texto, sempre respeitando a técnica da construção poética moderna, mas não o faço porque, se isso fizesse, teria que reproduzir, nestas pálidas considerações, a maior parte do livro. Deixo, pois, para o leitor a bela surpresa. É melhor assim.
E por entender oportuno, deixo aqui, nesta página, uma advertência aos apressados: é impossível – afirmo isto de maneira peremptória – fazer apenas uma leitura deste Poemário... Não; isso não é o suficiente para conhecer a poesia que nele contém. Os poemas sempre pedirão mais uma, mais uma e mais uma leitura para se mostrarem inteiros àqueles que gostam e sabem apreciar a boa poesia.
Comigo, durante os dias de convívio com os originais, a cada releitura, ia solidificando-me cada vez mais, na alma e na mente, a convicção de que estes são poemas que merecem e devem ser exibidos na vitrine de frente, em prateleira bem visível, no compartimento principal da literatura pátria, pois se trata de uma poesia refinada, pura, alta, soberba, da melhor gema, daquela que não se produz apenas por vaidade pessoal de incautos poetas, mas que nasce de um cérebro privilegiado pela límpida inspiração poética, do poeta que sabe que é poeta e tem consciência de seu mister no mundo.
Livros e livros de poesia moderna têm-se publicado, aqui e acolá, a mancheias, mas poderiam ser resumidos em pouquíssimos, tão iguais ou parecidos se apresentam aos leitores. Não há, nestes tempos modernos, grandes inovações nessa arte de Deus – a divina arte da poesia. As repetições, ao contrário, são muitas; proliferam nas publicações do gênero as palavras mal-usadas, gastas ou aposentadas, mal reunidas na construção dos versos, as valas comuns dos textos ruins que sempre encontramos por aí.
Aprendi há muito que o bom poema é aquele que transmite beleza, que encanta e emociona a alma de quem o lê. Este Poemário mirim de pertinências várias tem beleza, encanta e emociona; é diferente e inovador, tanto na forma quanto no conteúdo. Agradou-me muitíssimo sua leitura. Não tenho nenhum receio em afirmar que, neste “admirável mundo novo” de Aldous Huxley, poesia como a deste livro, mais que as armas, é a última trincheira do homem.
Não tenho dúvidas em proclamar que este Poemário mirim de pertinências várias é uma bem elaborada obra de arte poética, daquela arte que no dizer de Aderbal Jurema, antigo crítico literário pernambucano, “para atingir a beleza da vida, custa muita humildade e sacrifício”. E, após concluir a leitura destes poemas, tenho segurança para afirmar que eles custaram muito disso ao poeta Getúlio Marcos Pereira Neves – além de inspiração, paciência e trabalho.
Recomendo a todos a leitura deste Poemário... Vale a pena. Eu adorei!
Vitória, inverno de 2018.
Matusalém Dias de Moura
Da Academia Espírito-santense de Letras