Introdução à leveza

Luiz Guilherme Santos Neves

Introdução à leveza é o título de uma das crônicas de Elizabeth Martins que fazem parte deste livro.

Quis, porém, a autora que da crônica assim chamada, o título se transpusesse ao conjunto da obra. E o batismo se fez senão com água do Jordão (que bem merecia o livro), com a cristalina água destilada pela sensibilidade da Autora, como sacramento que consagra.

Porque todas as crônicas postas aqui nas mãos do leitor são de introdução à leveza.

Introdução magistral.

Crônicas para serem lidas e simbolicamente sopradas para o alto, e de novo sopradas em repetição de assopros para que bailem um persistente bailado, balões cheios de sopro de vida a rodopiar no espírito do leitor num encantamento que relute em diluir-se.

Não estou dizendo novidade, pelo menos para Beth que sabe como poucos lidar com o misterioso incógnito do cotidiano, de que nos fala o poeta Mario Quintana. Como também sabe muito bem a razão pela qual deu ao livro o título que deu.

E se por si sabe das causas da boa escolha que fez, não as omite dos leitores. A crônica-título está aí para provar: “Ah! As tais coisas que nos aliviam o peso e nos acenam com sua leveza de pétala, de verde, de barulho de fonte deslizando nas pedras”.

Não se dando por satisfeita, arremata numa revelação intimista: “Assim, costumo olhar dentro e fora de mim cada detalhe que me desenhe no rosto um sorriso, me apague a ruga na testa, me conduza corpo e alma ao sutil encontro com a leveza.”

A frase me faz lembrar mais uma vez Mario Quintana: “Ah, essas pequenas coisas, tão quotidianas, tão prosaicas, às vezes de que se compõe meticulosamente a tessitura de um poema”.

Não quero, porém, me cingir a realçar o modo peculiar com que Beth vê as coisas simples da vida para transformá-las em crônicas sem jaça. É preciso ir além dessa menção à captação do ver cotidiano. É preciso realçar também o modo pelo qual Beth escreve, sobre tudo o que apreende a sutiliza do seu olhar sensível. Refiro-me à clareza e à precisão com que transfunde sentimentos e percepções em palavras.

Neste particular a autora é de uma economia verbal que chega a ser atordoante. Domina com mestria a medida justa do texto suficiente. Economia, diga-se logo, que não compromete a aventura da escrita, antes a engrandece e distingue como marca de um estilo personalíssimo.

Costumo dizer que as crônicas de Elizabeth Martins têm a virtude de caberem na palma da mão. E nas poucas vezes que excedem essa medida, vão até as veias do pulso, onde se medem as batidas do coração.

É dessa forma que Beth realiza o amanho da sua arte literária que prende o leitor na rede de Ariadne dos seus textos, dotados da leveza das plumas e da densidade das singelas emoções.

 

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