A esquisita campanha contra a "AIDS"

Geir Campos

Essa campanha publicitária contra a AIDS (síndrome de deficiência imunológica adquirida), que sempre acha hora e lugar entre as caríssimas programações de televisão, em todos os canais, me parece muito esquisita, para dizer o menos.

Afinal, o que é que desejam os promotores dessa campanha toda?

Em 1968, o mundo recebeu o choque de um novo comportamento social dos jovens, sob o lema “faça amor, não faça guerra”. Mas amor não dá lucros imediatos aos ávidos senhores do chamado complexo industrial-militar, nem aqui, nem nos States, nem na URSS, nem em parte alguma; o que “dá dinheiro”, mesmo, é armamento... Aí está o nosso triste Brasil (ou “Brazil” ou “Brasiu”) que não nos deixa mentir: houve por bem deixar de ser o “celeiro do mundo”, como se dizia que era, para ser um pedaço do “arsenal do mundo”, fabricando e vendendo armas, leves e pesadas, a quem as quiser comprar. E tome aviãozinho, e tome tanque de guerra, e tome revólveres e fuzis, etc., etc...

Mas, com todo esse aparato militar, a moçada continuava a fazer amor, até que “caiu do céu” a ameaça da AIDS: amor, só com a indefectível “camisinha”, que de repente deixou de ser objeto muito particular e passou a artigo de primeira necessidade. Daqui a pouco vão começar a expor camisinhas de Vênus nas telinhas de televisão, esperem só!

E como esses anúncios aparecem a qualquer hora do dia ou da noite, é impossível evitar que as crianças tomem conhecimento das coisas que eles anunciam, ou prenunciam, ou denunciam.

No comecinho da campanha, só havia perigo para os homossexuais; depois o perigo estendeu-se aos heterossexuais – quer dizer, a todo homem ou mulher púbere. “AIDS pega-se pelas mucosas”, dizem os anúncios muito repetidos e já ficando cansativos: beijos na face pode, beijo na boca é um perigo... E adeus ao “faça amor, não faça guerra”.

Como essa propagandazinha insidiosa, e de certo mau caráter, aparece a todo momento na televisão, em todos os canais; e como se sabe que a televisão, como os meios de comunicação de massa em geral, muitas vezes ocupa o tempo e o lugar de informações talvez mais importantes com falsas notícias, fica a pergunta: o que será que a televisão está agora querendo esconder? Alguma falcatrua internacional? Ou nacional, mesmo?

Médicos e artistas, alguns até respeitáveis, prestam-se ao ridículo de aparecerem nas televisões dando imagem e voz a anúncios contra a AIDS. “A AIDS mata! Não tem cura!” – dizem, assustando quem está a fim de sustinhos bestas. E aí é que entra a esquisitice: sabe-se (estatísticas dizem) que morre de fome uma pessoa a cada minuto – mas a FOME tem remédio, a FOME tem cura... E por que as redes de televisão não fazem nenhuma campanha publicitária contra a FOME, por uma distribuição mais racional dos alimentos, evitando que uns poucos comam demais e muita gente não tenha o que comer? Não é esquisito?

A mim me parece tão esquisita essa campanha maciça contra a AIDS, que eu só fico pensando no que os MCM (meios de comunicação de massa) estarão querendo esconder dos respectivos públicos. Que será?

Publicado originalmente no jornal A ORDEM, ano LXI, São José do Calçado, domingo, 9 de agosto de 1987, nº 2.421.

Leia outros textos

Esta é uma publicação de cooperação entre o site Tertúlia e a Academia Calçadense de Letras.