O leão e as hienas, de Uedison Pereira

Vem do escritor Uedison Pereira o volume de contos reunidos sob o título O leão e as hienas. O conto que dá título ao livro é uma fábula nada infantil, cuja moral, já que é esperado que toda fábula tenha uma, é a repetição dos eventos ocorridos na savana africana com leões e hienas, sabidamente inimigos notórios, entre os humanos. Na recriação da fábula, Uedison Pereira, com maestria, demonstra como leões e hienas são inofensivos se comparados às bestas feras que são os homens. Essa é a moral que expõe. É inevitável ficar com a sensação de algo autobiográfico em “A viagem”, o segundo conto do livro. Se é verdade que todo autor parte de suas próprias experiências para a realização de sua arte, em “A viagem” dificilmente se engana quem conhece o escritor Uedison Pereira que, como o menino acabrunhado da estória (grafia adotada no livro), mudou-se ainda na infância para Vitória. Embora o conjunto do livro seja muito agradável, fica a impressão de que o ponto alto é o terceiro e último conto do volume, “O corpo de Hhia” – Hhias são humanoides num futuro por volta de 2040 – , arremate perfeito para a ideia que tão fortemente dá unidade ao livro, ou seja, a índole da espécie humana. Existencialista, desencantado, parece que só a busca da bela paisagem oferecida por três ilhas artificiais poderá ligar o protagonista, um entediado belga do futuro, a alguma “humanidade”. O clímax do conto é estupendo, e a frase “diziam que alguns Hhai mostravam-se mais altruístas que muitos humanos” revela o quanto de desumano temos em nós quando encontramos algo que confronta o lado obscuro de nosso ser. Além disso, o trecho confirma a suspeita sobre a unidade do volume e dá, de Uedison Pereira, esse gentil escritor capixaba de Pedro Canário radicado na Bélgica, uma ótima perspectiva para sua produção futura.

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