Polêmica da ata

Vitória, 25 de novembro de 2000.

Senhor Sérgio Bichara

Entre surpreso e pasmo li, na reportagem do jornal Metropolitano da 2ª quinzena de novembro/2000, tendo por tema os cavaleiros da távola redonda, frequentadores, aos sábados, da mesa de tampo de vidro da Livraria Logos, que você, sr. Sérgio Bichara, deu-se abusivamente a petulância de se dizer o autor da ata do grande almoço de confraternização que assinalou os dez anos de existência desse excêntrico grupo de pseudoliteratos e escritores. Entre surpreso e pasmo li que, duas vezes, precisamente duas vezes, você foi mencionado na indigitada reportagem como autor do documento. Aí então entendi o seu empenho, junto à jornalista que fez a reportagem, para a publicação da ata. Lembro que você disse para ela: “pode me telefonar que eu lhe passo cópia.” Como só você conserva essa cópia entre seus guardados (certamente ao lado dos velhos discos dos garotos de Liverpool), seu raciocínio teve a simplicidade de um apagão, ou seja, de uma absoluta falta de clarividência: “vou dizer que o texto é meu e ganho as glórias da autoria!” Ora, senhor Sérgio Bichara, este raciocínio elementar e simplório, além de revelar um “maucaratismo” deplorável, mostra do que o senhor será doravante capaz se um brado de restrição não lhe for anteposto à conduta. Se não for assim, daqui a algum tempo você vai se atrever a dizer que é o autor da Nau decapitada e de O templo e a forca. E onde fica a minha obra, sobretudo agora que você está frequentando o curso de Mestrado lá na UFES, em meio a tanta gente que está se aprimorando nas Letras e no trato com os autores da Literatura Capixaba? Vai ver, você já está pensando até em defender uma tese acadêmica em que trata da apropriação indébita, por parte daqueles que são os verdadeiros autores, das obras que você deve estar dizendo que são suas. Já pensou onde isso vai dar? Pois dou-lhe um exemplo: ao invés de termos o Pedro Nunes lançando a décima edição do Vilarejo, teremos você!

Andei consultando nosso psiquiatra de plantão, Sebastiao Lyrio, para tentar entender essa sua conduta de "surripiador" de textos alheios. Ele me veio com uma teoria complicada a que denominou "síndrome libidinosa-supressiva”, que leva certos pacientes a se locupletar com o que é dos outros por atitudes que têm algo a ver com prisões de ventre que tiveram na infância. Mas nem assim me inclino a desculpá-lo, sr. Sérgio.

Penso, portanto, num castigo exemplar a lhe ser imposto e vou requerer ao nosso grupo dos sabalogos que o aprove: que você seja condenado a copiar 500 vezes, em papel almaço e em letra cursiva legível, o texto da ata que você anda dizendo que é sua. Somente assim, sr. Sergio Bichara, retornarei às boas com você, e encontrarei força interior para voltar a chamá-lo de Serginho.

Indignadamente,

Luiz Guilherme

 

Carta aberta ao Sr. Sérgio Bichara

Após a leitura da reportagem sobre o Sabalogos no jornal Metropolitano, nº 91, 2.a quinzena de novembro/2000, faço as seguintes considerações:

a) Na referida reportagem você aparece em imerecido destaque não somente nas fotos como no texto, o que levou muitos componentes do Sabalogos a considerar que a matéria pode ter sido maldosamente orientada por você. Estranhei que você tenha se atribuído a autoria de ata referente aos dez anos do grupo, mas sem atinar, num primeiro instante, pelo motivo que lhe fazia cometer este feio gesto. Ao ler o protesto indignado do nosso colega Luiz Guilherme a luz se fez, sr. Blecaute Boy - a apropriação indébita da primeira ata deveria ser seguida pela atribuição a você da ata seguinte, ainda mais que divulgada num restaurante de comida árabe, o que facilitaria a treta. Daí que a ausência do meu nome da turma fez parte de seu plano de gatuno (cuidado com o Bonino!) de ata para se apropriar também da que escrevi. Não que eu devesse figurar na reportagem entre os luminares do grupo, mas, pelo menos, tivesse registrada minha condição de simples participante do Sabalogos. A completa omissão do meu nome por você, informante inepto, me pareceu significativa - facilita sua tarefa indigna ao tornar inexistente o autor da próxima ata da qual você iria se apossar. O ser humano não falha!

b) Minha indignação aumentou quando verifiquei que no belo texto jornalístico também não constava entre os participantes permanentes do Sabalogos o nome insigne do dr. Henrique Herkenhoff, (37 anos, procurador da República, professor universitário). Logo ele, além de pessoa ilustre, digno membro de importante família de jurisconsultos e intelectuais de nossa terra. Mas a falta do nome de Henrique logo ficou clara como i1uminação de Natal, sr. Apagão - é que Henrique, além de fornecedor de ótimos vinhos em algumas de nossas comemorações, lembra com cuidado e carinho das datas natalícias dos membros do grupo; e você, com seu vezo em se distinguir como criador e guia destes encontros, enxergou nele um futuro adversário e concorrente, que deveria ser neutralizado, para que você não compartilhasse com ninguém as glórias dos referidos eventos.

c) Também deve ser repudiada a ausência na referida reportagem do nome de Hormizio Santos Muniz (66 anos, servidor aposentado do IBGE), naturalmente por ser guarda-costas de Bonino Cat Killer, de você antigo desafeto. Por sinal, o citado segurança na última reunião do grupo nos brindou com uma criativa imitação de Nat "King" Cole cantando em portuinglês "quero chorar, não tenho lágrimas, que me rolem na face, pra me socorrer" - será alguma referência à ingratidão perpetrada por você aos seus sentimentos de sociabilidade?

d) Com aleivosias e tirando partido da oportuna matéria jornalística em causa, você almejava jogar os componentes do Sabalogos uns contra os outros, induzindo-os a erro. Assim, nosso companheiro Luiz Guilherme, ao escrever o seu legítimo e veemente protesto, incidiu em equívoco, felizmente não levado em consideração por Pedro J. Nunes, considerando que a obra VILAREJO ainda estava na décima edição, quando se sabe que ela já emplacou a 35.a edição, com perspectiva de tirar mais cinco edições nos próximos dez meses, e enriquecida com um subtítulo: VILAREJO - Estórias Corridas de um Lugarejo.

Por tudo isto é que me dirijo a você por meio desta CARTA ABERTA ponderando o seguinte:

a) Nada indica que os nossos antepassados no Líbano tivessem alguma divergência que precisasse ser explicitada agora, o que torna mais grave esta sua falta de consideração para com um patrício.

b) Tudo leva a crer que a historia do Sabalogos seja bem outra, já que podem cair por terra seus reiterados argumentos de que ela nasceu de um tapa que o Bonino Cat Killer, em errada hora, não lhe deu - uma bronca, no mínimo, deve ter acontecido e você, aliás sabiamente, botou o galho dentro, mas tratou de espalhar versão diferente do ocorrido.

Como para todo mal existe remédio, a sua purgação será simples, acrescentada ao castigo que Luiz Guilherme já lhe impôs:

a) Não implicar com qualquer componente do grupo, em especial com o dr. José Neves, vulgo Zezito, pelo mínimo de 50 reuniões consecutivas.

b) Sentar-se entre Bonino e Zezito, também pelo mesmo número de vezes, sem reclamar da fumaça de seus constantes cigarros.

c) E, em último lugar, por ser mais importante, frequentar por no mínimo 1001 dias (qual Sherazade tropical, barbuda e quase cinquentona) as sessões de convencimento hipnótico e preparação ética ministradas por profissional de psicologia a ser escolhido pelo grupo, numa terapia inversa ao cidadão que foi mandado ao Sabalogos para conviver com intelectuais e se curar.

Caso você se insurja contra estas magnânimas reparações, sugiro desde já ao grupo que lhe seja doravante pespegado o cognome de Short Circuit, por sua característica de reiterado mentor de curtos-circuitos e choques entre os companheiros do grupo, e que, por um ano, você fique restrito a frequentar o Sabalogos em mesa separada, na exclusiva companhia de Maxwell, castigando-se exemplarmente o eletricista arábico e ensinando-se a este jovem o procedimento correto a ser dispensado aos amigos.

Também indignadamente

Fernando Antônio Achiamé (50 anos, historiador e poeta)

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