O começo de tudo

O primeiro encontro aconteceu quase que de um desencontro

A gente faz tudo sempre igual, até que, sabe-se lá por que razão, acontece um pequeno fato, um detalhe qualquer, que transforma em especial e histórico um dia que prometia ser apenas morno e rotineiro, sem novos acontecimentos. Pois assim foi.

Naquele sábado, como de hábito, ele sentou-se à mesa da Livraria Logos com a também costumeira braçada de livros. Mas Sérgio Bichara jamais poderia imaginar que algo faria a diferença daquela manhã. Ao sentar-se, já estava à mesa um senhor cercado de livros. Em determinado momento, o homem acendeu um cigarro e Sérgio, irritado, começou a ensaiar contra ele um veemente discurso antitabagista. Mas, antes que pudesse balbuciar qualquer palavra, foi colhido pela surpresa.

O fumante dirigiu-se a ele, dizendo: “Acabei de ler este livro e adorei”. A obra era Cristo parou em Éboli, de Carlo Levi, e o homem do cigarro, João Bonino Moreira. Bom, a abordagem de Bonino funcionou como uma senha e de um quase desencontro fez-se um encontro.

Deixando de lado o incômodo que a fumaça lhe estava causando, Sérgio pensou: “Esse cara é diferente, tem valor”. Seguindo a indicação daquele seu quase desafeto, comprou o livro. Voltou no sábado seguinte e novamente encontrou Bonino. Estava assim constituída, como que por acaso, a célula mater do grupo.

“Se você tivesse me chamado a atenção por causa do cigarro, ia levantar-se da mesa no tapa”, brinca Bonino, que tem fama de bravo. Sérgio reconhece que, caso partisse para a beligerância, tudo teria sido diferente. “Hoje não estaríamos aqui”, diz.

“Éramos seis”, comenta o grupo, em alusão ao livro homônimo, de autoria da Sra. Leandro Dupré, e lembrando que, além de Sérgio e Bonino, foram também sócios-fundadores José Ferreira Neves Neto, Francisco Grijó, Pedro J. Nunes e Carlos Lugon.

Quem faz os Sabalogos

Carlos Teixeira de Campos Júnior, 44 anos, professor, engenheiro civil e doutor em Arquitetura e Urbanismo

Getúlio Marcos Pereira Neves, 36 anos, juiz de Direito

Michel Minassa Júnior, 40 anos, advogado

João Bonino Moreira, 69 anos, bancário aposentado e escritor

José Ferreira Neves Neto, 45 anos, juiz federal

Luiz Guilherme Santos Neves, 67 anos, professor aposentado, historiador, advogado e escritor

Pedro J. Nunes, 37 anos, professor e escritor

Victor Biasutti, 75 anos, bancário e professor aposentado, poeta, escritor e ex-vereador

Reinaldo Santos Neves, 53 anos, funcionário público e escritor

Renato Pacheco, 71 anos, professor aposentado, magistrado, historiador e escritor

Sérgio Luiz Bichara, 47 anos, engenheiro elétrico

Ivan Borgo, 71 anos, professor aposentado, ex-diretor regional do Senai

Dos encontros participam, vez por outra, o poeta e escritor Berredo de Menezes e o psiquiatra e escritor Sebastião Lyrio. O psicólogo e músico Salsa também costuma por lá dar o ar da graça. O antropólogo holandês Gerald Banck, que fez doutorado no Brasil, é outro que, quando vem a Vitória, junta-se ao grupo. Francisco Grijó e Miguel Depes Tallon foram as duas baixas da confraria. Este último, em virtude de seu falecimento, ocorrido no ano passado.

Anterior

Jornal Metropoliano - Quinzena II - Novembro 2000

Leia outras matérias especiais

Voltar