Irresistível atração para os leitores

Tanit F. Mario

Fotografias de Chico Guedes

Livrarias oferecem espaços para quem quer pesquisar, ler ou trocar ideias

Inovação, incentivo à leitura sem compromisso comercial ou reação à crise econômica, as livrarias de Vitória vêm brindando os leitores, nos últimos meses, com espaços alternativos dos quais a freguesia - e a nem tanto - pode usufruir para fazer consultas a livros, ler revistas ou simplesmente tomar um simpático café. Algumas têm grupos certos de pessoas que se reúnem para conversar, trocar ideias sobre literatura, política, computação ou qualquer outro assunto, e pelo menos em uma delas, a Logos, o grupo reúne-se, religiosamente, aos sábados, para horas de conversa.

Não importa se quem descobre a sala da Logos fica ali “filando” leitura. “Muitos têm vontade de ler e não podem comprar”, então, não tem problema se a pessoa chega, pega um livro e fica sentada horas, lendo. Quem explica o clima da sala de leitura da livraria é Jorge Pinto Rangel, gerente da Logos. O balcão com água e café - servido numa belíssima máquina vinda de São Paulo -, os livros expostos e os enfeites nas prateleiras tornam o ambiente aconchegante. E os fregueses vão inventando mil e uma utilidades para o armário que fica do outro lado do balcão: até uísque fica lá, para eventualmente ser apreciado entre uma leitura e outra.

Democraticamente, Jorge Rangel diz que o cantinho faz todo mundo sentir-se em casa. E o elitismo que se poderia supor numa livraria é logo descartado por ele: lá, alguns meninos de rua entram para folhear livros. Jorge recomenda que eles não lhes arranquem folhas. O cantinho do café da Logos comporta gostos de leitura variados, mas para pesquisas há outra sala, destinada mais a professores.

Sala, jardim e muitos projetos

Outra livraria que mantém um espaço permanente para quem passa, entra e gosta é a Don Quixote, na Praia do Canto. Revistas, livros sobre cinema, música e de biografias compõem o ambiente, também idealizado mais por motivos culturais que comerciais, segundo explica o proprietário da livraria, Antônio Carlos Braga, que também garante não se importar com os que “filam” leitura. Como a Logos, a Don Quixote atrai grupos de frequentadores, que se reúnem de vez em quando para conversar. Mas Antônio Carlos prefere não citar nomes, argumentando que muitos são fregueses também de outras livrarias. Na Don Quixote o cafezinho fica na cozinha e os clientes mais chegados já sabem onde encontrá-lo sem pedir ajuda.

Além do espaço de leitura, a livraria tem realizado promoções, como a oficina de sucata, coordenada pelo grupo Bufão, conforme vai explicando o dono da Don Quixote. No verão, diz ele, como o público fica reduzido, as promoções deste tipo são suspensas, mas volta logo. E, “se o PDU deixar”, no futuro o pátio interno do local vai abrigar um bar, que funcionará junto com a livraria.

A Livraria Capixaba também possui, na sobreloja, um espaço com sofá e livros técnicos, num ambiente mais destinado à pesquisa. Em contrapartida, são realizadas promoções nas quais o professor leva os alunos para um visita que inclui sorteio de livros infantis e distribuição de balas e chocolates. A promoção é feita no período de aulas e já levou à livraria alunos das escolas Crescer e Leonardo da Vinci.

Falta de divulgação ou de interesse da freguesia? O espaço alternativo da Livraria Gaivota ainda não emplacou. Rita de Cássia Coutinho Batisti, a proprietária, explica que, inicialmente, o local, na sobreloja, foi projetado para dar maior comodidade ao professor, sendo destinado à pesquisa. Assim, publicações didáticas e paradidáticas de todas as editoras são encontradas lá e muitas vezes Rita até empresta livros aos professores que frequentam o local. Apesar de a loja não ser muito grande, a Gaivota também promove visitas de alunos acompanhados de professores: as escolas Monteiro Lobato e Álvaro de Castro Matos já participaram da promoção. A falta de interesse da clientela pelo espaço às vezes desanima Rita, que gostaria de vê-lo utilizado em benefício da pesquisa ou do lazer de quem o frequenta.

Outra livraria que mantém espaço para pesquisa é a Multilivros. Na sobreloja, mesa e cadeiras esperam o professor que quiser consultar as publicações. Só que lá o esquema é um pouco mais formal e o interessado tem de solicitar autorização para ficar no local, explica Ricardo Teixeira Girelli, gerente de vendas da livraria. De espaço em espaço, as livrarias vão cativando a clientela que, dependendo do “astral” do lugar, assume novo espírito sedentário. É o que ocorre, por exemplo, na Logos da Leitão da Silva: quem se reúne lá avisa logo que, não importa o número de filiais que a livraria venha a abrir, aquela loja será mantida fielmente como ponto de encontro.

Jornal A Gazeta - Caderno Dois - sábado, 13 de fevereiro de 1993

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