Grupos formados por admiradores da literatura aproveitam espaços
como livrarias cafés e até uma floricultura para trocar ideias sobre suas obras favoritas
Os amantes da literatura não medem esforços para apreciar um bom livro, ouvir poesias ou simplesmente conversar sobre escritores e suas obras preferidas.
É muito comum ver grupos formais ou informais desses admiradores realizando encontros em livrarias ou áreas de lazer, onde passam horas recitando poesias, ouvindo palestra e até vendo filmes com roteiros baseados em livros.
Um dos grupos mais antigos, composto na maioria por escritores e professores aposentados, se reúne todos os sábados de manhã na Livraria Logos da Avenida Leitão da Silva, em Vitória.
De um encontro casual entre João Bonino Moreira, já falecido, e Sérgio Bichara, em maio de 1989, na Logos da Enseada do Suá, começou o que logo teve a adesão de Pedro J. Nunes, Carlos Wilson Lugon, Francisco Grijó e José Neves.
Aos poucos se juntaram ao grupo Renato Pacheco, Luis Guilherme e Reinaldo Santos Neves, Getúlio Marcos Pereira Neves, Ivan Borgo, Henrique Herkenhoff, Miguel Depes Tallon, Vitor Biazutti, Fernando Achiamé, Ivantir Borgo e Léa Brígida.
"Isso se transformou numa família. Contava os dias da semana para chegar o sábado e vir aqui. Havia muita intimidade, fazíamos excursões e almoços que contavam até com atas", garante o engenheiro Sérgio Bichara.
O professor aposentado da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ivan Borgo, que também integra o grupo, lembra que não há nada programado. "As coisas ocorrem espontaneamente. Já tivemos uma vida inteira de compromissos e, agora, como o interesse de todos é literatura, nos encontramos sem obrigações nem agenda definida", explica.
Amizade. Para Léa Brígida, a única mulher que marca presença, o que conta é a amizade do grupo. "Aqui aprendo muito na troca de experiência com esse pessoal maravilhoso, mas além do aprimoramento intelectual, há a amizade que nos une", diz.
No começo do ano passado, o grupo sofreu um abalo com a morte, em pouco mais de um mês, de João Bonino Moreira, Ivantir Borgo e Renato Pacheco, um dos mais assíduos e em cuja homenagem o local passou a se chamar "Recanto Renato Pacheco".
Se as coisas no Sabalogos são informais, o mesmo não acontece com o Clube do Livro, formado por um grupo de mulheres, com apenas um integrante masculino, Samuel Malheiros, vice-diretor da Aliança Francesa de Vitória, na Enseada do Suá, onde o grupo se reúne uma vez por mês.
A ideia de formar o clube surgiu em outubro de 1997, trazida de Brasília por um grupo de amigas que havia morado na Capital federal e resolveu implantar a ideia por aqui. Inicialmente, a reunião era na casa de uma das sócias.
Estatuto. O clube tem até estatuto, que determina, entre outras coisas, o número máximo de 24 membros, "para facilitar a integração", conforme explica a professora universitária aposentada Maria Teresa Dias, integrante da turma.
Além disso, as reuniões seguem uma pauta pré-definida. A cada mês, uma associada indica uma obra, que todas leem. No dia do encontro, assistem a uma palestra e discutem o tema.
A reunião da próxima quinta-feira terá, por indicação da também professora aposentada Terezinha Bichara, a exibição do filme de Walter Salles "Abril Despedaçado", baseado em livro homônimo do albanês Ismail Kadaré. "Nesses encontros temos a oportunidade de ler obras excelentes e ouvir palestrantes maravilhosos", afirma Terezinha.
Em junho, a discussão será sobre "O Eterno Marido", do escritor russo Fiodor Dostoievski (1821-1881).
Poesia. Os versos também estão no centro dos debates de um grupo que se reúne quinzenalmente para ler poesia e, por isso mesmo, foi batizado como "O Quinze", título do mais popular romance de Raquel de Queiroz.
O grupo aceita "gente de todas as idades, mas principalmente jovens, para despertar neles o interesse pela poesia", explica um dos participantes, o escritor e cartunista Milson Henriques. O grupo existe há dois anos e seus integrantes preferem ler poesias próprias.
Sem nenhum nome, mas igualmente interessado em discutir poesia, literatura ou pesquisa histórica do Espírito Santo, um grupo de 10 a 15 pessoas, formado há mais de três anos, se reúne a cada 15 dias na área de lazer do Centro da Praia.
Leonardo Monjardim, membro da Academia Espírito-santense de Letras e secretárioexecutivo da Lei Rubem Braga, está sempre entre eles, assim como Valcema Rodrigues, da Academia Feminina Espírito-santense de Letras; e a escritora Marilena Soneghet, cronista de A GAZETA.
O grupo, que começou a se reunir na floricultura Gaiola das Flores, na Praça dos Namorados, agora pretende passar a se reunir na Escola de Teatro e Dança Fafi, no Centro. "O grupo é ótimo, declama poesias, próprias ou dos outros, e serve para incentivar a leitura de nossos poetas e também dos grandes nomes brasileiros", afirma Monjardim.
A Gazeta - Caderno Dois - domingo, 8 de maio de 2006.