1º Encontro de Escritores em São José do Calçado

De 28 de fevereiro a 2 de março de 2024, realizou-se na cidade de São José do Calçado o 1º Encontro de Escritores em São José do Calçado. Além de marcar o centenário de nascimento do poeta Geir Campos, filho ilustre da cidade, ocorreram homenagens a outros escritores, como Fernando Tatagiba, também nascido na cidade. O encontro foi marcado por muitas atividades, dentre elas desfile literário, lançamentos de livros, concursos literários, rodas de conversa, contação de história, música e declamação, apresentação teatral, entre outras. Um dos pontos altos do encontro foi a maciça participação dos alunos do município e até do município vizinho Bom Jesus do Norte. Segundo a coordenadora do evento, Ivny Matos, a totalidade das escolas do município foi alcançada. Tanto Ivny Matos quanto Débora Brasil e Edson Lobo, estes dois da Academia Calçadense de Letras, realçam com entusiasmo essa abrangência na área educacional.

É importante lembrar que essa simpática cidade do sul do estado tem uma academia de letras atuante e com sede própria, sendo ela a proponente do projeto na Secretaria de Cultura do Estado.

O site Tertúlia .:. Livros e Autores do Espírito Santo colheu alguns depoimentos de idealizadores, participantes e esperançosos expectadores do encontro. Eles dão a real abrangência de quanto o evento foi importante para a vida cultural de São José do Calçado, a cidade que, entre outros méritos, tem o que figurar no Guiness Book of Records como a cidade brasileira que mais tem escritores por metro quadrado.

Débora Brasil: escritora

A grande festa literária realizada na Terra dos Escritores, entre os dias 28/02/24 e  02/03/24, celebrou a cultura local , marcando as comemorações do centenário do escritor Geir Campos, nascido no dia 28 de fevereiro de 1924 em São José do Calçado.

Criado o ambiente favorável às diversas manifestações culturais - as artes cênicas, a música, as artes plásticas e visuais - a literatura foi evidenciada pela reconhecida  vocação dos calçadenses.

A poesia invadiu as praças e jardins, plantados canteiros de poemas pelas crianças. Expressou-se na diversidade: da contemporaneidade do slam ao classicismo dos sonetos, de  verve da poeta Joana D'Augustini.

O "Desafio do Bicho do Charpinel" provocou a escrita criativa: a visão dos estudantes que participaram do concurso literário, ampliando, em novas e fantásticas perspectivas, a  figura do imaginário popular. O mito também revisto na brilhante interpretação da atriz Gabriela Kruger.

Oficinas literárias contemplaram contingentes de estudantes do Ensino Médio e do Ensino de Jovens e Adultos. Momentos dedicados à contação de histórias encantaram público infantojuvenil. Música e literatura encontraram-se nos espaços públicos , com renascimento da Lira 19 de Março e da  Banda Marcial Terezinha Juliana. Literatura e teatro fizeram  história no Salão Nobre do Colégio de Calçado, com a encenação do texto de Oscar Rezende, "Morte e vida à sombra do Jaspe”, pelo grupo Amizarte.

Lançamento de livros de autores calçadenses e visitantes, saraus e sarauzinhos (autores  e declamadores infantis), em perfeita harmonia com as manifestações populares - a Folia de Reis de São Benedito e os blocos carnavalescos Buraco Quente e Biquinha.

Entra para a história  o grande Encontro em que se buscou, com êxito, afirmar a genuína vocação literária dos calçadenses, celebrando e honrando as bases populares que constituem o rico patrimônio cultural da Terra dos Escritores, do qual todos somos herdeiros e zeladores.

Edson Lobo Teixeira: presidente da Academia Calçadense de Letras, professor e escritor

A Academia Calçadense de Letras, em parceria com a Dona Música, representada pelos artistas Ivny Matos e Fernando Gasparini, promoveu o Encontro de Escritores em São José do Calçado, de 28 de fevereiro a 02 de março último, comemorando o Centenário de Nascimento do Poeta calçadense Geir Campos.

Esse evento cultural superou todas as mais otimistas expectativas, uma vez que a comunidade calçadense, em todo o seu segmento, participou entusiasticamente e proporcionou cabal apoio nos trabalhos preparatórios.

O envolvimento dos alunos de todas as escolas, nas atividades culturais propostas, produziu frutos esperançosos, já que, dali, brotarão os escritores, artistas e aqueles que, futuramente, conduzirão o destino da Arcádia Calçadense, preservando o seu status de Símbolo Máximo da nossa Cultura.

Os escritores de outras plagas, que aqui estiveram, os jovens escritores calçadenses e os demais artistas da palavra patentearam suas experiências, enriquecendo o Encontro e incentivando o gosto pela leitura, que é o intento precípuo desse acontecimento.

Foi um trabalho de fôlego que ocasionou grande repercussão, porque esse Encontro artístico-literário, que envolveu as diversas manifestações da arte, corroborou a vocação ingênita do calçadense para a cultura. Com a palavra, Geir Campos: “Gabo-me de ser filho do Espírito Santo por obra e graça de São José do Calçado.”

Ivny Matos: calçadense, artista e produtora cultural

“Assim são os artistas anônimos... no fundo o que eles querem mesmo é o bem da comunidade, mesmo que essa o veja com olhos maledicentes... Uma obra calcada nos valores materiais fatalmente será substituída por outra na rolança do tempo e do progresso. Uma obra de arte vara o tempo e as gerações. E o poder é efêmero.” (Pedro Teixeira- 1989)

Produzir um evento como esse não é apenas marcar a data, pedir patrocínio e divulgar no Instagram, o buraco é bem mais embaixo. Trata-se de revirar memórias, vivenciar afetos e desafetos, buscar a ancestralidade, encarar a realidade.  Trata-se também de articular instituições, vender a ideia, subir e descer morros no sol quente, aturar egos inflamados, enfrentar a cara feia da maldade, dos frustrados, o floreio de discursos demagogos, pisar nos ovos do jogo político e amar a tudo isso.

Mas é também receber abraços calorosos carregados de boas lembranças, desejos sinceros de sucesso, uma mão que se estende, confissões de saudades, olhares de admiração, sorrisos de gratidão.

Sempre tive tanta certeza de tudo que estava fazendo que, apesar de me assustar com certos horrores que ouvi e presenciei, nada me tirou do meu Norte. Tenho uma fé inabalável na minha missão, no meu trabalho, na arte e na poesia, principalmente. Como disse nosso aniversariante Geir Campos, somos de São José do Calçado, por honra e graça do Espírito Santo, e isso fez de nós seres que sempre tiveram a arte no ar, no cotidiano, na vida, como deveria ser em todos os lugares do mundo. E porque não é assim em cada canto do planeta, eu assumi essa missão de vida.

Sou artista sim, poeta e palhaça, principalmente e com muito orgulho, mas o ofício da produção cultural é uma necessidade vital, pois é urgente que a humanidade novamente se reúna em volta de fogueiras para cantar, tocar tambor, dançar, contemplar a natureza e contar histórias. É preciso redescobrir o amor incondicional. Se não para isso, o que fazemos nós aqui? Como disse Drummond: “Que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?” Amar nossos iguais que não tiveram os mesmos privilégios que nós, amar a falta que eles tiveram, pois é da falta e da fartura que nascem as culturas. Tudo que a humanidade faz é pretexto para estarmos juntos. Queremos o outro, nossa vida se completa no outro.

E é preciso se curvar diante de cada manifestação cultural que existe, coexiste, resiste e perdura pelas mãos calejadas dos negros, pobres, mulheres e crianças de São José do Calçado, apesar da estupidez que assombrou a cidade por décadas. Hoje há uma luz no fim do túnel. E essa luz emana de olhares como do Ju do Bloco das Gatinhas, do Dô da Folia de Reis de São Benedito, dos jovens da nova versão da Banda Marcial Teresinha Juliana, dos novos integrantes da Lyra 19 de Março, dos estudantes da EJA, do talento das crianças de São Benedito, Jacá e Palmital, do samba no pé e alegria do nosso Tata, da humildade do nosso eterno maestro Mancha, da fúria do Bloco Unidos do Buraco Quente, que arrancou sangue dos paralelepípedos no Carnaval 2024, e é tudo isso que nos torna “a cidade dos escritores”! Não há mérito individual, isolado, purista! Somos o que somos porque eles são.

É urgente que as crianças de São José do Calçado sejam tratadas como crianças, sementes de uma Calçado livre, vanguardista que sempre foi, progressista, republicana, irreverente, à frente dos tempos. Por isso e somente por isso foi concebido o 1º Encontro de Escritores em São José do Calçado, para que as manifestações culturais sejam valorizadas e as sementes plantadas, pois é isso que mantém esse povo vivo, unido, feliz, independente dos jogos de poder.

Para que os moradores da Biquinha, do Buraco Quente e da Vala se mantenham em seus lugares de origem por opção e não por descaso. Viva o professor Antônio de Souza! Viva Geir Campos! Viva Cristina Garcia! Viva Mané da Lelé! Viva a cultura de São José do Calçado! Vida longa ao Encontro de Escritores! Que possamos aprender mais e mais com esse povo guerreiro, lindo, criativo e feliz!

Gratidão infinita à minha família, aos parceiros e amigos que de uma forma ou de outra contribuíram para a realização desse lindo, emocionante e marcante evento, e à ACL, que acreditou nessa loucura desde o início.

Oscar Rezende: escritor

Sob um calor escaldante, corpos suados e mentes radiantes desfilaram pelas ladeiras e praças da cidade, eram os participantes do Primeiro Encontro de Escritores em São José do Calçado. Tudo aconteceu por obra e graça da Academia Calçadense de Letras (ACL) e de Ivny Matos. Uma mulher fascinante, que espalhou vitalidade, beleza e competência na produção do evento.

Por obra e graça de São José do Calçado, nascia, há um século, Geir Campos, o escritor homenageado no encontro. Foram quatro dias de diversas atividades: teatro, contação de histórias, batalhas de poesia, cinema, blocos de Carnaval, concursos literários, saraus, folia de reis e lançamento de livros. A organização foi impecável, e o ponto auto do encontro ficou por conta da  participação dos alunos das escolas municipais da cidade e cercanias. Com gritos descontrolados, alegrias incontidas e vontade de participar, eles deram um show.

O que esse encontro deixou como legado foi a certeza de que São José de Calçado tem uma juventude ávida em participar de movimentos culturais, principalmente os literários. Parabéns, ACL e Ivny Matos, por materializarem com esse encontro  a lei estadual que concedeu a São José do Calçado  o título de Cidade dos Escritores.   

Pedro J. Nunes: escritor

Quando, num café com o amigo Oscar Rezende, fiquei sabendo da gestação de um encontro de escritores em São José do Calçado, tendo como data básica o centenário de nascimento do poeta Geir Campos, não pude fazer ideia do que viria a acontecer. Sei o quanto a Academia Calçadense de Letras, que viria a se tornar proponente de um projeto em edital da Secretaria de Cultura do Espírito Santo para que o evento se concretizasse, tem se colocado na vida cultural da cidade como potente divulgadora da literatura entre os calçadenses e visitantes. Mas também sei o quanto os produtos - ditos culturais - de má qualidade têm alcançado o consumo, o coração e a alma da maior parte das pessoas. Por isso, embora me sentisse animado com a ideia de um encontro literário (grifo indispensável), mantive no fundo do quintal de meu pessimismo um tico de receio acerca do que pudesse acontecer.

Entre um café e outro, Oscar ia me atualizando. Então surgiu o nome de Ivny Matos, uma jovem artista e articuladora cultural calçadense cujo nome tem bastante reconhecimento no meio. Ivny atuou como idealizadora e coordenadora do projeto. Quando o encontro se tornou real, e pude acompanhar Ivny numa espécie de saga (ela praticamente se mudou para Calçado, de volta à casa paterna, nas semanas que antecederam o encontro) em favor da realização do encontro, pude finalmente ver que minhas preocupações iniciais se desfaziam diante da esperança dessa aguerrida jovem, quando declarou: “A minha vida inteira convivi com essa efervescência cultural em Calçado, com muito teatro, música e literatura. Porém, nos últimos anos percebi que esse engajamento caiu com frequência. O Encontro vem com essa missão, de religar as gerações através da nossa vocação maior que é a arte, a literatura, a cultura”.

Mesmo a distância, devido a compromissos inadiáveis, pude acompanhar os eventos nos dias 28 e 29 de fevereiro, viajando para São José do Calçado na sexta, dia 1º de março, onde, passado o susto inicial causado por uma forte chuva, testemunhei o grande sucesso alcançado pelo encontro tornado uma realidade pelo trabalho da Academia Calçadense de Letras e Ivny Matos. Quando voltei, afinal, para minha casa, trazia a esperança de dias melhores na vida de alunos e pessoas que se dispuseram a comparecer à enorme tenda armada em frente à igreja matriz, na linda praça da cidade. São José do Calçado não negou sua vocação para a literatura. Quando voltei, afinal, repito, voltei grato a todos os envolvidos pelo notável trabalho realizado nesse sentido.

Sarah Vervloet Soares: professora e escritora

Fazer parte do evento foi uma honra porque Calçado é uma terra de muitos escritores do Espírito Santo, como é o caso de Fernando Tatagiba. Então, além de lançar meu livro Luar é verbo: notas sobre a fluidez, publicado pela Editora Patuá (SP), pude participar, com muita emoção, de uma homenagem a Tatagiba, junto à sua família - as poetas Fernanda Tatagiba e Dalva Broedel. Ao me debruçar sobre a obra do escritor, durante o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da Graduação em Letras-Português (UFES), no ano de 2011; e durante o Mestrado em Letras (UFES), de 2012 a 2014, compreendi a importância dos contos, crônicas e poemas de Fernando Tatagiba para a literatura contemporânea. Desde então, acredito que o escritor não deve ser esquecido. Por isso, esse Encontro celebrou sua memória, sua literatura e reacendeu o desejo de sistematizar toda a obra de Tatagiba, facilitando o acesso do público aos seus textos, além de nos motivar a pensar em diversos projetos relacionados a isso. Foi uma festa da literatura produzida no Espírito Santo, sem dúvida. Vida longa ao Encontro!

Wilson Coêlho: dramaturgo e escritor

O 1º Encontro de Escritores em São José do Calçado, que aconteceu entre os dias 28 de fevereiro a 02 de março, é uma espécie de vela aberta nesse mar de improvações que vivemos, principalmente no que diz respeito à literatura, essa arte potente que atravessa milênios registrando a história do ser humano no mundo.

Nada mais oportuno e justo do que ser realizado em São José do Calçado, considerando que o município é conhecido como o do maior número de escritores por metro quadrado do Brasil.

O 1º Encontro de Escritores em São José do Calçado, produzido com muita garra e valentia de Ivny Matos, além do artistas locais, também reuniu escritores, editores, tradutores, gestores públicos, músicos e atores, representantes da literatura e da arte produzida no Espírito Santo.

Tendo como palco central a praça Pedro Vieira, também houve atividades na Escola Estadual Mercês Garcia Vieira e na sede da Academia Calçadense de Letras. Na vasta programação teve rodas de conversa, exposição, exibição de vídeo-poemas, peças de teatro, contação de histórias, saraus para adultos e crianças, oficinas, lançamentos de livros, cortejos, estandes temáticos e apresentações musicais, em atividades que buscam integrar os vários setores da comunidade.

Nesta 1ª edição do Encontro de Escritores em São José do Calçado houve uma homenagem especial ao centenário de nascimento do ilustre poeta, tradutor, editor, jornalista, ensaísta, professor e piloto da marinha mercante Geir Campos, nascido em São José de Calçado, que, diga-se de passagem, é um dos mais importantes escritores da literatura brasileira, ligado à chamada “Geração de 1945”. Mas também foram feitas homenagens a outros escritores calçadenses como Fernando Tatagiba e José de Almeida, à escritora, dramaturga e diretora teatral Cristina Garcia e ao professor Antônio de Souza.

Pudemos participar dos lançamentos de livros de Sarah Vervloet, Fernanda Tatagiba, Luciene Carla Marcelino, Marcéu Rosário, Ivny Matos, Sônia Polido, Rita de Cássia Côgo, Winston Churchill Rangel, Carlos Fonseca, Luciene Carla, Ivny Matos, Fabiany Taylor, Márcio Moraes, Fernanda Tatagiba, Dalva Broedel, Luciana Teresa Benguela, entre outros, desde os veteranos até os novos escritores da cena literária, como Welliton Levine e Lucas Porto. Ademais dos lançamentos, também o evento foi prestigiado por Pedro J. Nunes, Oscar Rezende, Fernando Gasparini, Tomaz Musso, Cristina Garcia e outros.

Devo confessar que sinto-me um privilegiado por participar no 1º Encontro de Escritores em São José do Calçado, não só pela comemoração do centenário de Geir Campos, autor que muito li, desde suas traduções de Rilke, Brecht, Goethe, Shakespeare, Sófocles, Whitman e alguns outros, além de algumas de suas obras, em especial, o Cantar de amigo ao outro homem da mulher amada, que ele me enviou autografado. Também me senti em casa com a homenagem a Fernando Tatagiba que, além de meu amigo, trabalhei com suas obras no teatro como, por exemplo, adaptei e fui ator de O sol no céu da boca e, na peça “Oração”, de Fernando Arrabal, inseri seu poema “Natal”.

Enfim, a 1ª edição do Encontro de Escritores em São José do Calçado é uma prova viva de que a literatura feita no Espírito Santo é muito mais potente do que supõem os organismos de cultura oficiais de nosso estado e dos nossos municípios. E não posso deixar de registrar a presença do grande escritor e amigo Pedro J. Nunes, calçadense de vivência e coração que, apesar de sua presença discreta e silenciosa, fez gritar a importância de sua obra na literatura do Espírito Santo, cujo epicentro está em São José do Calçado. Assim, o 1º Encontro de Escritores em São José do Calçado é o prenúncio de uma onda literária, onde os escritores capixabas haverão de surfar por mares nunca navegados.

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