"O petróleo é nosso"

A ideia alimentada por uma convicção fincada naquela firmeza dos jovens quanto ao lado certo. Uma convicção que jogava no lixo argumentos sisudos de pretensa racionalidade.

A satisfação de encontrar outros amigos que pensavam da mesma forma, como o Fernando Fernandes, o Dr. José Leão Borges, o Ciro Viera Machado e de nos reunirmos no segundo andar de um velho sobrado de escadas rangentes na Rua Cerqueira Lima, 29, no Centro da cidade. Ali estabelecíamos linhas de ação em cima de uma certeza: “o petróleo é nosso”.

Telegramas para todas as direções, artigos inflamados em jornaizinhos alternativos denunciando os “entreguistas”, tudo debaixo de certo clima de conspiração porque os do “outro lado” eram muito fortes e nos chamavam de tolos, subversivos e por aí. Estavam acampados, principalmente, na poderosa rede de jornais associados comandada por Assis Chateaubriand.

A lei do petróleo, em outubro de 1953, nos encheu de alegria. Mas os inimigos não desistiam. Armavam escaramuças e jogavam cascas de banana em direção da jovem Petrobrás que, na época, tinha como sede algumas salas num edifício do final da Avenida Rio Branco, 81, no Rio.

A continuidade na luta era indispensável.

Em 1957, o “Diário de Notícias” do Rio de Janeiro lançou concurso de monografias sobre o monopólio estatal do petróleo.

Com a experiência daqueles encontros na Cerqueira Lima, lendo livros sobre o assunto, fiz uma monografia e a Petrobrás me concedeu um prêmio de viagem ao Amazonas, onde a empresa havia descoberto petróleo em Nova Olinda e Abacaxis.  

Marcado o dia da viagem, fizemos escala no Rio e fomos até a sede da empresa. Lembro-me desse primeiro contacto com gente da Petrobrás, como Gontijo Maciel e Bina Machado, ou seja, gente de carne e osso que materializava o sonho de uma empresa brasileira para a exploração do petróleo.

Na ida ao Amazonas, o prazer de encontrar outros companheiros de viagem, participantes do concurso, como o general Valério Braga, o jornalista Osório Borba, o professor Rocha Diniz, da Universidade de Minas, o Ítalo Guignone, do Paraná, que viajavam conosco pela Panair do Brasil num majestoso “Constellation”. Enquanto amanhecia, o sol nos revelava a floresta, o grande mar verde lá embaixo. Mal podíamos imaginar que, no futuro, o nosso mar, o mar do Espírito Santo, com suas reservas de ouro negro, seria também um desmentido aos pessimistas ou mal-intencionados (Monteiro Lobato foi perseguido por dizer que havia petróleo no Brasil).

Enfim, a Petrobrás de hoje nos diz que os tolos não éramos nós.  

E agora? O Congresso quer nos fazer de tolos e afogar nos mares direitos estabelecidos pela Constituição? Rasgar contratos? Marginalizados outra vez? Já fomos vigilantes guardas do ouro de Minas, personagens involuntários de um “deserto de tártaros”, vítimas de uma modernização autoritária da cafeicultura que jogou na miséria milhares de conterrâneos. Eternos “patinhos feios” na transferência de rendas federais para o Estado, etc., etc. Outra vez?  

 

Leia outros textos