O Morro da Fonte Grande 

Nunca se diga desta água não beberei.

Havia em Cidadilha uma quadrinha da autoria de um trovador cheio de bossa:  

Desta água beberei

Se boa esta água for.

Para esta água ser boa,

Tem que cheirar como flor. 

Não era o caso da água do Morro da Fonte Grande, suja e salobra. Para que a água da Fonte Grande pudesse ser bebida pelos habitantes de Cidadilha tinha que ser decantada três vezes, durante três dias. No primeiro, para perder a cor barrenta; no segundo, para perder o gosto salobro; no terceiro, para ficar no ponto. 

Ainda assim era preciso conservá-la em moringas de barro onde adquiriam um gostinho de terra que não se saberia dizer se vinha do morro por onde a água corria ou do barro da moringa em que ficava guardada.

Mas sete dias depois de tirada da fonte a água tinha que ser jogada fora porque criava um resíduo amarelado no fundo das moringas, apesar de decantada. Quem bebesse da água nestas condições passava a sofrer de azia e o único jeito de ficar curado era apelar para a seguinte oração: 

Santa Iria

Tem três filhas:

Uma fia,

Outra cose,

E outra cura

Do mal de azia.

Outra propriedade da água da Fonte Grande era a de que jamais podia ser benzida por padre. Se fosse, fervia como se tivesse o diabo no corpo, evaporando-se num piscar de olhos. Para ser usada nas pias batismais, a água tinha que ser trazida de fora da cidade-ilha, em cântaros desembarcados no Porto dos Padres.

Aos visitantes de Cidadilha que demorassem na cidade por mais de uma semana dava-se de beber a água envelhecida das moringas para que partissem de vez e, ainda por cima, de garganta abrasada pela azia, porque não lhes era ensinada a santa oração de Santa Iria, nem por ouro, nem por prata, nem por sangue de Aragão

 

A Rua do Piolho 

Cá e lá más fadas há.

Uma explicação para o nome da rua se deve ao grande número de miseráveis que nela moram – todos sujos, esmolambados, piolhentos. Esta versão revela a discriminação que a maioria do povo de Cidadilha tem contra os moradores do lugar, formado de casas baixas e pobres.

O tratamento depreciativo mostra ainda que se trata de uma rua pela qual passam apenas os que nela moram. Uma vez ou outra, um visitante distraído é levado a conhecê-la sob o pretexto de que se deparará com curiosidades inesquecíveis, o que não deixa de ser verdade, porque os que creem na informação saem de lá com os cabelos ouriçados de piolhos. 

Uma segunda explicação para o nome da rua vem da adivinhação que uma velha maluca lança invariavelmente aos seus moradores, cutucando-os com o dedo: O que é, o que é, que anda com os pés na cabeça?

Como ninguém lhe dá atenção, ela mesma dá a resposta: é piolho, é piolho! – produzindo, com a boca desdentada, um ronco impossível de se definir como gargalhada ou rugido de raiva.

Mas se a Rua do Piolho se chamasse Rua do Bicho-de-Pé, o nome também viria a calhar devido à fartura de pulex penetrans que a infesta e que se instala nos pés dos que por ela andam.

Foi o que aconteceu com um turista francês que morou algum tempo numa casa da rua. Dessa desastrada experiência o gaulês deixou uma informação da qual sobreviveram uns poucos trechos: “Existe numa rua de Cidadilha um inseto ao qual o povo chama bicho-de-pé. Este inseto se introduz ... debaixo das unhas dos pés e nos dedos, e ... põe ovos aos milhões numa bolsa purulenta que cresce cada vez mais. Se a pessoa o deixa vingar sem removê-lo ... distúrbios gravíssimos sobrevêm ao infestado. Afirmaram-me que um sábio, pretendendo levar para a Europa uma amostra desses insetos com os ovos preservados, não quis retirá-lo e morreu durante a travessia [trecho ilegível]. Toda noite eu ... deixava examinarem-me os pés com um alfinete e um canivete aquecidos na chama das velas, a fim de retirarem habilmente todo o abscesso, porque, se a bolsa arrebentar, os ovos ficam entranhados na carne. Um dia, entediado com essa operação, não quis mais me submeter ... Na manhã seguinte, acharam onze ninhos no dedo grande do meu pé direito e seis no dedo mindinho.”

Só faltou ao francês registrar, em seus apontamentos, esta quadrinha muito recitada pelos moradores da Rua do Piolho: 

Se vejo meus pés,

Me benzo de medo.

Tem mais de cem bichos,

Em cada um dos dedos.

  

A Ladeira do Carmo 

Toda cantiga tem o seu lelê.

A ladeira começa na Rua da Capelinha e mergulha em direção ao Convento do Carmo, comprida e delgada como uma gata espichada na boca de um jacaré. 

Todas as casas da ladeira têm na fachada a palavra vila, seguida de um nome de mulher, presumivelmente da dona da casa. A denominação confere às residências um ar aristocrático que o povo considera, entretanto, um exibicionismo de mau gosto. Essa tradição teve fim quando uma prostituta do Porto dos Padres mudou-se para uma casa da ladeira e afixou na fachada seu nome de guerra: Vila Aurora Gorda.  

Quanto ao convento, que batiza a ladeira, é obra vetusta. O acesso ao seu interior é terminantemente proibido. E, como as carmelitas nunca aparecem aos olhos do mundo, não falta quem diga que elas não existem nem nunca existiram em Cidadilha.

Mas a parte do convento onde fica a igreja abre religiosamente para as missas dos domingos. É a única dependência conventual que o povo conhece.

As missas são acompanhadas por um coro de vozes indistintas que partem do fundo da igreja e podem até ser das carmelitas, embora ninguém garanta. São as vozes do Carmo que atraem os fiéis para as missas dos domingos porque, segundo a tradição, elas respondem às consultas que lhes são feitas.  Pergunta-se o que se quer saber e as vozes respondem, sem se fazer de rogadas.

As respostas têm caráter sigiloso e pessoal: não se deve revelar o que informam para não perder o efeito, cada ouvinte interpretando o que bem entender do que bem ou mal perguntou.

O que se ouve nas vozes, no coração se cose, diz o povo de Cidadilha. 

Para os visitantes da cidade, recorrer às vozes do Carmo nem sempre dá o resultado desejado. Eles têm dificuldade para entender o que ouvem, chegando a pensar que as respostas são dadas em latim ou em dialeto cab’chaba. E valer-se de intérpretes para decifrá-las seria anular o efeito das respostas.

Por esta razão, os visitantes saem de orelhas murchas da Igreja do Carmo. É como se as vozes lhes entrassem por um ouvido e saíssem pelo outro sem dizer a que vieram.        

  

A Ladeira São Bento 

Não adianta chamar São Bento depois que a cobra pica.

Quando havia governadores em Cidadilha, a mulher de um deles teve um sonho – estava num rochedo toda vestida de preto ouvindo vozes infantis que cantavam:  

Era um rochedo tão alto

Que ninguém pode alcançar...

Sentou-se a pobre viúva,

Sentou-se e pôs-se a chorar, a chorar... 

Logo que acordou, a mulher contou o sonho ao marido. Para tranquilizá-la, o governador falou de dentro de sua barba governativa: “Sonhos são bolhas. Poque-as.”

O verbo pocar, em dialeto cab’chaba, significa rebentar, furar. O governador aconselhava a mulher a se esquecer do assunto.

Se ela seguiu ou não o conselho do marido, não se sabe. Mas um mês depois estava viúva e, como era das regras nas regras da sucessão naquele tempo, teve de assumir o governo em substituição ao falecido.

Nessa época, o que mais havia em Cidadilha eram cobras e lagartos (ou largatos, como eram chamados). Os lagartos eram vistos com simpatia pelo povo, com seus corpos estirados displicentemente sobre as pedras, banhando-se ao sol com os olhos abertos e o escárnio nos lábios. Havia até quem os levasse para dentro de casa, domesticando-os.

Com as cobras, porém, era diferente. Perigosas e letais, constituíam flagelo em Cidadilha, surgindo de repente no roda-pé das pessoas ou, segundo diziam, até se atirando em voos traiçoeiros ao pescoço das vítimas. Para se prevenir dos ataques inesperados o jeito era invocar São Bento três vezes.

Por isso, uma das primeiras providências da viúva do governador assim que assumiu o governo foi convidar dois frades beneditinos para combater as serpentes de Cidadilha.

Para estimular os religiosos, a governadora doou-lhes terras onde deveriam construir um convento, num morro infestado de víboras. Ali os beneditinos ergueram uma pobre casa coberta de palha e iniciaram seu apostolado profilático.

A Ladeira São Bento, que levava à palhoça, teve origem aí. Mas devido à grande quantidade de víboras que serpenteava pelos calcanhares dos beneditinos, foi inicialmente chamada Ladeira das Cobras.

 O que acontecia com as cobras ninguém sabia com certeza. Mas comentava-se em Cidadilha que elas serviam de alimento aos frades, que as chamavam no assovio diretamente para as suas panelas.

Quando os beneditinos morreram, sem deixar sucessores, a missão que lhes foi atribuída não teve continuidade. O legado que deles ficou em Cidadilha foi o nome São Bento dado à ladeira e ao morro onde conviveram amistosamente com as cobras. Quanto ao convento que deveriam ter fundado, nunca passou da pobre palhoça que o vento, assoviando, levou.        

 

A Ladeira da Pedra 

Devagar se vai ao longe.

Seu nome diz tudo: uma ladeira com uma pedra quase a barrar-lhe a entrada, que terminava nos fundos da matriz de Cidadilha. Íngreme e pedregosa, a subida era escalada pelos penitentes que, de joelhos, pagavam promessas a santos e santas.

Enquanto se arrastavam lentamente, os devotos catavam pedrinhas do chão e arremessavam-nas por sobre os ombros na crença de que conseguiriam, com tais arremessos, aliviar o peso do sacrifício que se impunham.

Apesar disso, quando chegavam no alto da ladeira estavam pondo o coração pela boca, sem que dessem o braço a torcer: movidos por sua fé empedernida, continuavam deslizando como lesmas em direção ao interior da igreja matriz, onde se prostravam com lágrimas nos olhos e a alma em júbilo, cantando fervorosamente:  

Ora vai chegando,

Ora vai chegando,

Ora vai chegando, até chegar! 

Em Cidadilha, era voz corrente que existira sobre a pedra, na entrada da ladeira, um forte dedicado a São Diogo, para proteção da enseada ao seu pé. Mas nunca se achou desse forte uma gravura sequer que comprovasse a sua existência.

Mais tarde, quando Cidadilha deixou de ser uma vila que necessitasse de fortins para a sua defesa, a pedra da ladeira foi destruída a fogachos. Uma chuva de lascas e cascas de granito se dispersou pelos ares, indo duas delas se cravar elegantemente no gogó de uma palmeira, situada ali por perto, imitando uma gravata borboleta.

No lugar da pedra demolida foi edificada uma escadaria que recebeu o merecido nome de São Diogo. Mas, desde então, nenhum penitente subiu de joelhos os seus degraus para pagar promessas a santos e santas, nem mesmo a São Diogo, patrono do antigo forte e da ladeira que virou escadaria.   

 

A Rua da Praia 

Onde come um, comem dois.

Bem que podia se chamar Rua da Maré, dos Mangues ou dos Caranguejos. Mas, por uma questão de bairrismo, os habitantes de Cidadilha preferiam chamá-la Rua da Praia. No entanto, praia nenhuma existia por ali e, de rua, o que havia era um caminho escorregadio à beira do mangue.

As casas situadas de um lado desse caminho tinham quintais voltados para a maré que os inundava nas cheias. Quando a maré baixava, o cheiro penetrante da lama entrava pelas casas adentro, junto com centenas de caranguejos que pareciam animais domésticos.

Em tempos passados, os caranguejos de Cidadilha eram do tamanho de melões, o que permitia divisar claramente a figura de Nossa Senhora tracejada nas suas carapaças, confirmando a lenda de que a Virgem fora transportada nas costas de um caranguejo, na travessia de um brejo. À medida que, por motivos nunca explicados, os caranguejos diminuíram de tamanho em Cidadilha, o desenho de Nossa Senhora foi sumindo dos seus costados, e a lenda brejeira se apagando da memória do povo.

Entre as crianças de Cidadilha, a catação dos caranguejos era muito comum na Rua da Praia, fosse para prendê-los em barbantes à guisa de brinquedos, fosse para atiçá-los uns contra os outros em lutas renhidas. Mas a tradição mais celebrada na Rua da Praia eram as caranguejadas, que consistiam na comilança dos caranguejos no tempo da andada – quando começavam a andar e eram catados em sacos para serem cozinhados e servidos num rega-bofe em que os comensais não perdiam tempo usando pratos e talheres.

Durante horas, os cascos dos caranguejos eram partidos sobre mesas de madeira, armadas ao ar livre, ou suas pinças (puãs, em dialeto cab´chaba) trituradas nos dentes pelos que se entregavam ao prazer de sorvê-las entre assovios para, depois de quebrados uns ou trituradas outras, os comensais se fartarem com a carne dos bichos, numa competição de mesa para mesa que avançava pela madrugada até a barra do dia.

Enquanto se lambuzavam com o animado banquete, os comilões entoavam um refrão muito conhecido em Cidadilha:  

Caranguejo não é peixe,

caranguejo peixe é.

Caranguejo só é peixe

na vazante da maré. 

Para os visitantes da cidade, esse canto-chão era a chave para saber a que espécie de animal pertencia o caranguejo que, aliás, em Cidadilha sempre foi denominado carangueijo. Mas, carangueijo, o que é?

  

A Rua da Mangueira 

Cria fama e deita-te na cama.

Dispensável esclarecer a razão do seu nome. Mas é necessário dizer que a mangueira que dava nome à rua era portentosa, maternal, peituda – uma árvore enfim que na época da frutificação explodia prolificamente em mangas por todos os galhos. Eram mangas apetitosas, cheias de um suco dourado e saboroso que escorria pelas mãos até os cotovelos quando destrinchadas no dente, como, aliás, devem ser destrinchadas as mangas tiradas aos braços de qualquer mãe-mangueira.

Mas não era a mangueira que dava fama à rua e sim a casa assobradada situada ao seu lado, chamada Casa Verde.

Na parte inferior do sobrado ficava a principal loja de Cidadilha, com mercadorias abundantes e variadas; na superior, a hospedaria para os caixeiros-viajantes.

O que, entretanto, diferençava a Casa Verde de qualquer outra loja da cidade-ilha era o tom esverdeado que se transmitia às pessoas que nela entravam, sobretudo quando pernoitavam no pavimento destinado aos hóspedes. Esse matiz doentio era felizmente passageiro e sumia da pele quando se deixava o estabelecimento.

Além disso, à Casa Verde ligaram-se duas iniciativas sui generis. Uma era um diálogo surrealista travado com quem entrasse na loja:

Tum, tum, tum – dizia o freguês, imitando o batido numa porta.

O que queres? – perguntava uma voz sem mostrar a cara.

Uma fita...

De que cor?

Se o freguês acertasse a cor da fita, que era mudada todo dia, ganhava um desconto nas compras; se errasse, a resposta que ouvia era: – Vá lamber sabão.

Uma brincadeira ingênua, sem dúvida. Mas na sua ingenuidade estava a força do prestígio que alcançou junto aos fregueses da Casa Verde porque as cores escolhidas para as fitas eram imaginosas – cor do dia quando nasce, cor de burro quando foge, cor do arco-da-velha – que enchiam de contentamento aqueles que as adivinhassem, mais até pelo acerto da cor do que pelo desconto a que teriam direito.

A segunda iniciativa que celebrizou a Casa Verde foi a divulgação de estampas coloridas com aspectos marcantes de Cidadilha, contendo um pequeno texto informativo. A estampa do Cais das Colunetas, por exemplo, trazia no seu verso: As belas caveiras do Cais das Colunetas, que balançam ao vento e servem para a iluminação pública com o precioso óleo de mamona. A estampa da Ladeira das Patas Brancas informava fazendo suspense: Ladeira onde a maldição das sextas-feiras de lua cheia transforma em patas brancas donzelas que esvoaçam sobre a baía da cidade, após a meia-noite. A do Largo dos Pelames dava também o seu recado: Lugar onde se abatem bois em Cidadilha, entre jorros de sangue e a encenação do festejado auto que tem o boi por personagem principal

Não se pode afirmar que a difusão das estampas da Casa Verde tivesse concorrido para aumentar o fluxo de turistas na cidade-ilha. Mas colecionadores mórbidos pagavam por elas o preço que lhes fosse pedido enquanto outros, mais mórbidos ainda, visitavam a Casa Verde unicamente para adquirir as estampas em primeira mão – mão esverdeada, diga-se de passagem.  

 

A Praia da Conceição 

Dois bicudos não se beijam.

Praia era força de expressão, porque não passava de uma enseada de marolas remanhosas. Nela os pescadores de Cidadilha recolhiam suas canoas; nela iam ter as águas do Morro da Fonte Grande, que desciam pela Rua do Reguinho; nela ficava o Forte de São Diogo, que defendia a região não se sabe exatamente contra o quê. Finalmente, era na prainha que estava a Capela de Nossa Senhora da Conceição, edificada em pinho de Riga pelos pescadores.

A igreja fora construída numa embarcação ancorada nas águas indolentes da enseada. Ao embalo da maré, a capela flutuava docemente, o que lhe dava um toque de singularidade sem precedentes em relação a qualquer outra capela do mundo.

Por ser igreja pequenina, comportava poucos fiéis a bordo. Nos dias de missa, um velho pescador abria suas portas e cantava com voz trovadoresca:  

Embarca, embarca, meus marujos,

embarca tudo em cordão,

artilharia já salvou

lá no porto da Conceição...

Era o convite para os fiéis entrarem na igreja. Quem não entrasse teria de ouvir a missa do lado de fora.

Outra excentricidade da capelinha era o peixe que foi entronizado no seu altar-mor, no lugar de Nossa Senhora da Conceição. 

Durante muito tempo perdurou uma grave polêmica entre o povo de Cidadilha, em virtude da novidade. Não que se condenasse a entronização de um peixe no altar principal (aliás único) da capela, fato perfeitamente compreensível pelo simbolismo da sagração. A polêmica versou sobre a identificação do peixe entronizado – se era um peroá ou um caramuru – porque o artesão que o entalhou não teve a habilidade artística para reproduzi-lo a contento.

A divergência terminou quando o Cabido de Notáveis Macróbios de Cidadilha decretou, em bula afixada na porta da igreja, que o peixe contraditório era simplesmente um peixe católico, devendo como tal ser cultuado no altar em que fora posto em posto de relevo.

A partir daí não mais se discutiu a espécie do peixe que ornava o altar da igreja, embora os adeptos dos dois entendimentos se tivessem organizado em partidos rivais que a si mesmos se denominaram peroás e caramurus, conforme a tese que defendiam.

Foi a partir dessa cisão que se disseminou em Cidadilha o hábito de comer peixe frito, sendo os caramurus preferidos pelos peroás, e vice-versa (cada qual comia o outro com prazer e rancor), tradição que sobrevive até hoje, apesar de reduzida à comilança dos peroás fritos, porque os caramurus já desapareceram completamente das águas da cidade-ilha.

 

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© 2007 Luiz Guilherme Santos Neve

 

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